quinta-feira, dezembro 30, 2004

Correio Verde

Hoje deixaram 2 embalagens de correio verde grátis na minha caixa de correio.

Diz na embalagem: "É só enviar, porque não tem de pesar".

Dá vontade de ir buscar uma barra de ferro grande e grossa e pôr lá dentro.

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Uma mensagem para Francisco Moita Flores



Francisco Moita Flores.
Nunca percebi se foste mesmo inspector da PJ, mas pronto, se dizes que foste, a gente acredita. A verdade é só uma Francisco, ninguém tem coragem de te dizer que não, com esse ar triste que tu tens, parece sempre que te morreu alguém e que estás de passagem para o funeral.
Mas isto - parafraseando Teresa Guilherme - agora não interessa nada.
Eu só te queria dizer, Francisco, que toda a gente sabe que tu só fazes as séries de televisão porque a tua mulher te obriga, para não estar desempregada. Ou achas que ninguém repara que a tua mulher tem sempre o papel principal? Tudo bem, é a tua mulher. Estão os dois deitados à noite, tu tens um projecto novo e ela pergunta-te: «Então, quem é que vai fazer o papel feminino principal na tua nova série?». Tu, claro, tens de dizer com naturalidade: «Er... bem... olha, podias ser tu! Tu és actriz e tudo pá!». A gente até pode compreender a pressão.
Francisco, vendo bem as coisas, tu és o Ben Affleck português e a tua esposa, Filomena Gonçalves, é a Jennifer Lopez portuguesa. Vocês não se deslargam, nem na televisão.
Cá para mim, devias ter cuidado Franscisco. Vê como acabou o outro casalinho... iam para casar e tudo e agora está cada um para seu lado.
Ganha coragem e diz-lhe que ela não entra na próxima série que vais fazer. Diz que queres fazer um casting. Ou então arranja uma história em que entrem só homens e quando ela disser que pode vestir-se de homem, diz que não ia ficar credível!


segunda-feira, dezembro 27, 2004

I Dream of 3s



No meio da noite a noite.
Imensa que te prende.

Sonho com árvores.
Todas as noites, sem parar.
Não há descanso de albergaria de beira de estrada
que sacie os meus pés gelados e gastos.

Eu caminho sempre parado,
quando o corpo se torce no movimento
da curva do caminho nos meus olhos.
Sempre. Sem parar.

O cansaço fica para trás.
O poema é fraco, mas resiste.
Vontade de respirar.

Os dias decorrem na luz etérea do rasgar de barrigas,
adormece a cigarra na brisa que vem do Norte
com o polén provocado pelo voo de garças doentes.
Dorme um cigarro na beira de precipicio de cinzeiro
metálico e é metálico o meu coração que perde a pulsação,
quando as nuvens escondem o sol laranja para a morte do dia.

Sonho com árvores,
de dia,
de noite,
a todas as horas,
e todos os minutos.

Árvores poluem o meu pensamento sujo,
com a sua viagem breve de oxigénio anil,
puro e absurdo de folhas,
de rama e seiva azul que cega,
que persegue e me deita ao chão,
com os joelhos por cima do peito
sem deixar respirar
até à submissão.

Caminhos secretos,
vento sem o ser.
Tudo isto me invade sem pedir
e me faz tremer de perdido.

Mas só pela poesia em si mesma.
Amo talvez o plástico e o artificial,
venero o sintético,
o fingido.

Reservo ao sonho o sonho de árvores.
De dia,
de noite,
a todas as horas do ser.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

A Rena Suicida - Uma história de Natal

Aproxima-se mais um Natal.
É a época em que gostamos todos uns dos outros, em que esquecemos divergências e nos abraçamos num grande abraço fraternal o nosso pior inimigo e o convidamos para nossa casa, para comer do nosso pão duro e da nossa água do cano.

Apesar do frio, dá vontade de pegar no velho livro de histórias forrado a couro vermelho, sentar o miúdo pequenito ao colo, mesmo contra a vontade dele, atirar mais um tronco para a fogueira e contar uma comovente história de Natal.

Folheando... o velho... livro... ora pode ser esta: "A Rena Suicida".

(som de harpas)

Era uma vez, há muito, muito tempo, uma rena feliz, que vivia junto das outras renas, ao serviço do Pai Natal, no Pólo Norte. As renas eram muito amigas umas das outras e quando acabava o serviço, iam para o bar da zona beber uns copos umas com as outras, comer um fardo de palha ou lá o que as renas comem e jogar o velho jogo das renas: mandar mulheres idosas ao ar com os chifres e ver como caem ao chão. 10 pontos se for de cara, 5 se fôr de costas.

Naquela noite de Dezembro, tudo parecia estar a correr normalmente. As entregas estavam a ser feitas a horas, estava a nevar e até o Pai Natal andava a tomar os medicamentos a horas.

Mas de repente...

Rena #1: (entra no bar a gritar) «VENHAM TODOS! O RUDOLFO ESTÀ NO TELHADO DA FÀBRICA!»
Rena #2: «Quem é o Rudolfo?»
Rena #3: «Não me perguntes, eu nunca fixei os nomes das renas do Pai Natal...»
Rena #1: «O Rudolfo, o alto, magrinho!»
Rena #2: «O da carrinha Renault?»
Rena #3: «O da carrinha Renault não é o Zé Manel?»
Rena #2: «Não há nenhuma rena do Pai Natal chamada Zé Manel pá».
Rena #4: (com voz fininha) «Esse gajo deve-me 10 euros».
Rena #2: «Tás é lixado. Porque Zé Manel não é o nome verdadeiro dele».
Rena #4: «Porra pá, um gajo não pode confiar nem na Branca de Neve hoje em dia!»

Passaram-se 5 minutos até que as renas lá largaram as cervejas, chegaram à conclusão que de facto o Rudolfo era o da carrinha Renault e lá foram ver o que se passava.

Rena #1: «Rudy pá! Desce dai! Não vale a pena!»
Rudolfo: «Zé Manel???»
Rena #1: «Não, pá. Sou eu!»
Rudolfo: «Eu quem?»
Rena #1: «A rena #1 pá. Ele não está bem, já nem me conhece. Eu vou sempre ao lado dele no trenó e tudo pá».
Rena #2: «Afinal quem é esse Zé Manel?»
Rudolfo: «És tu Zé???»
Rena #3: «Acho que ele está na terceira fila do trenó. É o tipo novo. Norueguês».
Rena #2: «Sempre a bufar, focinho frio».
Rena #1: «Como é que sabes que ele tem o focinho frio???»
Rena #2: «Er... ele... er... ele encosta-se a mim, porque está na fila atrás no trenó».
Rena #1: «Hum...»
Rudolfo: «Eu vou-me mandar pá! EU MATO-ME! NÃO PASSA DE HOJE!»
Rena #1: «Rudy pá. Não te mandes pá. Ai a minha vida!»
Rena #3: «Afinal o que é que aconteceu para ele se querer matar?»
Rena #1: (em voz baixa) «Acho que apanhou o Zé Manel no estábulo com a mulher dele e apareceu tarde para trabalhar hoje e o Pai Natal despediu-o».
Rena #2: «Isso é tramado».
Rena #3: «Rudolfo! És que rena tu?»
Rudolfo: «Sou a segunda rena, porquê?»
Rena #3: «Se morreres posso ficar com o teu emprego?»
Rena #1: «Então pá, isso é coisa que se diga???»
Rena #3: «Estava só a perguntar, não te passes dos cascos meu».

De repente ouve-se um grande rebuliço. Duas motas da GNR abrem espaço entre a multidão de renas e aproxima-se o Porsche Cayenne Turbo do Pai Natal, branco, com vidros fumados.

Um dos GNRs baixa da moto e bate numas renas bebés para deixar passar o Pai Natal.

Rena velha #1: (aos gritos) «Quem é? É o Carlos Cruz?»
Rena velha #2: (aos gritos) «É o Pai Natal!»
Rena velha #1: (Aos gritos) «Esses pedófilos deviam ser todos capados!»
Pai Natal: «Então o que se passa aqui hum? Estava quentinho em casa com a... er... a ver televisão, e sou chamado para o frio? Hum?»

Um assistente elfo aproxima-se do Pai Natal e conta-lhe a história ao ouvido.

Pai Natal: «Rudolfo? É verdade que te queres matar e que chegaste tarde por causa da infedelidade da tua esposa?»
Rudolfo: (em lágrimas) «É Pai Natal, é verdade».

O Pai Natal vira-se para a multidão, sobe para cima do capot do Porsche e discursa:

«O Natal é o periodo do ano em que somos todos iguais na Terra. Tanto eu, o humilde Pai Natal, que nada recebe do trabalho de caridade que faz e dá tudo aos pobres e só anda de jipe topo de gama porque parece mal andar com um carro pior, como a mais pobre das renas. O Rudolfo, quando quis ser uma rena do Pai Natal prometeu fazer tudo para que o Natal corresse bem, inclusivé chegar a tempo, seja com tempestade ou com bom tempo. O nosso empregado do mês, a rena Zé Manel, ontem chegou constipado, mas mesmo assim chegou a horas e até me trouxe um bolinho da pastelaria Doce Natal. Mas o Rudolfo deixou todas as crianças mal. Não é Rudolfo. Mas o Pai Natal não ia deixar que te matasses. Isso seria arruinares o nosso querido Natal! Nunca uma rena se suicidou no Polo Norte! Não enquanto eu for Pai Natal!».

O Pai Natal puxa da Magnum e dá um tiro no peito do Rudolfo, a la Chuck Norris.
Rudolfo cai sonoramente na neve macia e estrebucha até morrer.
O Pai NAtal entra no jipe e arranca a toda a velocidade, atrás dos batedores da GNR.

Rena #1: «Er... alguém quer tomar um copo?»
Rena velha #1: «No meu tempo os homens eram homens a sério!»
Rena #3: (a correr atrás do Porsche) «Pai Natal! Pai! Posso...? Olhe, o Rudolfo disse que eu podia ficar com o emprego dele! PAI NATAL???»

segunda-feira, dezembro 20, 2004

É só um bocadinho sô Guarda

Hoje fui a Lisboa e estava parado com o meu pai dentro do carro, estacionados num lugar em que se paga parquimetro, mas estavamos sem vontade de ir buscar o ticket.

Ficámos assim uns 10 minutos.
Ocorreu-me uma coisa em que eu já tinha pensado: quando estamos dentro do carro, nunca estamos a fazer nada ilegal, seja não pagar parquimetro, seja estar estacionado num lugar de deficiente, ou em cima de uma passadeira.

Se vem o policia nós dizemos uma das respostas padronizadas. Por ex. a #14: «é só um bocadinho sô guarda»; a #102: «estou à espera de uma pessoa, não demora mesmo nada»; a #33: «sô guarda ainda bem que o vejo, estou perdido, sabe onde fica a Rua Leopoldina da Silva?».

Tenho impressão que a eterna «é só um bocadinho sô guarda» até funcionava se o carro estivesse parado no meio da autoestrada. E se o agente protestasse, nós diziamos que estávamos à espera de alguém que estava mesmo a chegar. É impossível multar alguém assim pá.

sábado, dezembro 18, 2004

Céu fundo do mar



O cansaço deitou-se na relva molhada,
num fim do dia qualquer,
costas na dor salgada da noite escura.

De repente os olhos fechavam-se.
Sem pensar abriam-se às estrelas.

O cansaço deitava-se ofegante na relva molhada,
numa noite escura qualquer,
perdido,
inocente,
sem querer.

No cimo,
a grande ave de metal sem ruído,
deslizando na recta entre as estrelas,
esguia no manto negro.

Meu deus...

Como uma grande baleia.
Uma grande,
enorme baleia...

E eu aqui,
deitado,
costas na relva molhada,
olhando para este céu,
fundo do mar.



sexta-feira, dezembro 17, 2004

Qual é a minha pasta?

Manhãzinha na Assembleia da República. Os BMWs chegam carragadinhos de gente - 1 por carro é claro, que a ecologia é coisa de extrema esquerda - que despejam aos pés da escadaria de mármore. Hoje é dia de conselho de ministros do governo de gestão.

Ministro #1: «Bom dia people!»
Ministro #2: «Estás tão contente porquê pá?»
Ministro #1: «Está sol, eu sou ministro, é suficiente».
Ministro #2: «Ficas contente com pouco. Ainda por cima ministro em gestão».
Ministro #1: «Eu tenho curso de gestão fica tu sabendo, não sou como alguns...»
Ministro #3: «Hey! Isso é comigo?»
Ministro #1: «Nah, era com um primo meu pá. Não stresses».
Ministro #2: «Nem sabe o que é um ministro em gestão... tristeza...»
Adjunto: «Ouçam lá, isto dos ministros com números está-me a fazer confusão».
Ministro #3: «Confusão?»
Adjunto: «Vocês não sabem as vossas pastas?»
Ministro #1: «Eu acho que sou ministro das finanças»
Adjunto: «Vá lá. Não se aproveita da confusão para ficar com uma pasta melhor».

Chega o Primeiro Ministro no seu carro topo de gama e entra no conselho de ministros. Está tudo ainda de pé, porque ninguém sabe onde se deve sentar.

PM: «Ouve lá tu, traz-me um chá, que eu tenho uma dor de cabeça daquelas...»
Ministro #1: «Eu não trago chás. Eu sou o ministro das finanças».
PM: «Hum?»
Adjunto: «Ele não é o ministro das finanças, está só a reinar».
Assessor #1: «Sr PM, não se sente assim de lado, de frente fica melhor!»
Assessor #2: «Sr PM esqueceu-se da pulseira, era melhor cancelar a reunião!»
PM: «Onde está o outro?»
Adjunto: «Está a dar uma conferencia de imprensa».
PM: «Por alguma razão eu sentia as orelhas a arder...»

(Ouve-se um grito)

Adjunto: «Tudo calado agora. Então vai ser assim. O PM apaga a luz e cada um agarra uma pasta de cima da mesa. Cada pasta é um ministério e assim toda a gente se compreende».

(Apaga-se a luz. Grande barulho de gritos, murros e asneiradas)

(Acende-se a luz)

Ministro #1: «Então, ficaste com qual pasta tu?»
Ministro #2: «Ai melher, que interessa isso das pastas!»
Ministro #1: «Também acho melher, vamos lá para fora que eu quero-te conhecer melhor filha!»

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Se eu mandasse nisto durante um mês

«O que fazias?»

«Baixava o preço das cervejas», diz um.

«Juntava os pretos e os emigrantes todos numa praça grande e matava-os», diz outro.

e eu?

porque iria eu querer mandar no que não se manda, nas vidas alheias, no roçar do poder maldito?

se eu mandasse, não mandava. Seria um reinado de contemplação e os pombos voariam felizes pela cidade suja, paradas as multidões no idilio do fotograma de filme partido, tudo a duas cores de sépia amarela. Raizes saídas seriam o cúmulo da insurgência e olhos derramados, o fulcro de apoteoses individuais.

alguém limpa a garganta.

alguém se sente mal e apoia-se a uma parede gasta.

terça-feira, dezembro 14, 2004

He was just a patsy

«I want to, I want to be someone else or I'll explode»

«I want to, I want to be someone else or I'll explode»

«You want me, well fucking well come and find me
I'll be waiting with a gun and a pack of sandwiches
And nothing, nothing, nothing, nothing»

Ele caminhou com a canção no cérebro doente, durante as vidas que lhe restavam sofrer.

«I want to...»

«You want me...»

«I'm ready...»

Noites azuis no Wild Pines Motel.
Ele caminhava arrastando os pés na carpete escarlate,
noite alta, lua que descia para o mar silencioso.

«I'm ready».

«Are you really?»


segunda-feira, dezembro 13, 2004

Forever Marylin



Descobriram-se novas fotos de Marylin.
De uma Marylin 1955, presa num quarto de hotel de NY, à disposição inesperada de um fotógrafo que lhe fez companhia, enquanto os fans dispersavam lá fora. Antes da fama, durante "The seven year itch". Marylin ainda pura, sem drogras, mas já com a ilusão do glamour, ingénua e desprotegida, como sempre se manteria até à morte.

Mais fotos inéditas podem ver-se (e comprar-se) clicando aqui.

domingo, dezembro 12, 2004

Uma homenagem ao Miguel

Fica aqui uma piada parva em que eu pensei, no trilho do post do Miguel.

Quem é o politico mais preguiçoso do mundo?

É o Afonso Dlakama.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Baseball Diamond

Aproxima-se outro tempo.
Sente-se o frio, mas sente-se o movimento. É outro tempo.
Outro, diferente. Sempre diferente. Sempre outro.

Têm sido dias de uma dor intensa por detrás dos olhos.
Dias de hesitação. Dias sem o sopro altivo do Inverno.

Agora aproxima-se um tempo diferente.
Sente-se na pele um sol frio que nasce, que perturba a consciência.

O que pensavas saber, não o sabes.
Desconhece para alcançar.
Não lutes, acredita.

Há uma fé para aqueles que não acreditam em Deus.
Uma fé em algo maior do que mesmo ele pode alguma vez ser.

A fé no Destino.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Mão Morta em Concerto

Fui ver os Mão Morta.
Parece impossível, mas é verdade. Eu nos Mão Morta. Estava tudo ali ao pé, demasiado alto e demasiado real.
Estava tudo apertado, mas confortável, mesmo com o fumo nos olhos e na garganta.
Deu para gritar as letras, deu para chamar "GRANDE!" ao Adolfo, deu para lhe chamar "SECO" quando ele parava de cantar e se começava a armar em porco com o público.

.

No final uma sensanção de "já passou uma hora e meia???".
Muito bom. Quero mais!
Mas não quero ouvir o Adolfo a falar. É a definição do artista que se transcende da pessoa desinteressante que é. Ou, como dizia Nietszche, talvez seja uma questão simples de saber que "uma coisa são as minhas obras, outra sou eu".

O melhor da noite: BÓFIA mesmo ali ao pé das colunas, FANTÁSTICO!!!

quarta-feira, dezembro 01, 2004

No blood.

No blood remains here anymore.

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