quarta-feira, dezembro 22, 2004

A Rena Suicida - Uma história de Natal

Aproxima-se mais um Natal.
É a época em que gostamos todos uns dos outros, em que esquecemos divergências e nos abraçamos num grande abraço fraternal o nosso pior inimigo e o convidamos para nossa casa, para comer do nosso pão duro e da nossa água do cano.

Apesar do frio, dá vontade de pegar no velho livro de histórias forrado a couro vermelho, sentar o miúdo pequenito ao colo, mesmo contra a vontade dele, atirar mais um tronco para a fogueira e contar uma comovente história de Natal.

Folheando... o velho... livro... ora pode ser esta: "A Rena Suicida".

(som de harpas)

Era uma vez, há muito, muito tempo, uma rena feliz, que vivia junto das outras renas, ao serviço do Pai Natal, no Pólo Norte. As renas eram muito amigas umas das outras e quando acabava o serviço, iam para o bar da zona beber uns copos umas com as outras, comer um fardo de palha ou lá o que as renas comem e jogar o velho jogo das renas: mandar mulheres idosas ao ar com os chifres e ver como caem ao chão. 10 pontos se for de cara, 5 se fôr de costas.

Naquela noite de Dezembro, tudo parecia estar a correr normalmente. As entregas estavam a ser feitas a horas, estava a nevar e até o Pai Natal andava a tomar os medicamentos a horas.

Mas de repente...

Rena #1: (entra no bar a gritar) «VENHAM TODOS! O RUDOLFO ESTÀ NO TELHADO DA FÀBRICA!»
Rena #2: «Quem é o Rudolfo?»
Rena #3: «Não me perguntes, eu nunca fixei os nomes das renas do Pai Natal...»
Rena #1: «O Rudolfo, o alto, magrinho!»
Rena #2: «O da carrinha Renault?»
Rena #3: «O da carrinha Renault não é o Zé Manel?»
Rena #2: «Não há nenhuma rena do Pai Natal chamada Zé Manel pá».
Rena #4: (com voz fininha) «Esse gajo deve-me 10 euros».
Rena #2: «Tás é lixado. Porque Zé Manel não é o nome verdadeiro dele».
Rena #4: «Porra pá, um gajo não pode confiar nem na Branca de Neve hoje em dia!»

Passaram-se 5 minutos até que as renas lá largaram as cervejas, chegaram à conclusão que de facto o Rudolfo era o da carrinha Renault e lá foram ver o que se passava.

Rena #1: «Rudy pá! Desce dai! Não vale a pena!»
Rudolfo: «Zé Manel???»
Rena #1: «Não, pá. Sou eu!»
Rudolfo: «Eu quem?»
Rena #1: «A rena #1 pá. Ele não está bem, já nem me conhece. Eu vou sempre ao lado dele no trenó e tudo pá».
Rena #2: «Afinal quem é esse Zé Manel?»
Rudolfo: «És tu Zé???»
Rena #3: «Acho que ele está na terceira fila do trenó. É o tipo novo. Norueguês».
Rena #2: «Sempre a bufar, focinho frio».
Rena #1: «Como é que sabes que ele tem o focinho frio???»
Rena #2: «Er... ele... er... ele encosta-se a mim, porque está na fila atrás no trenó».
Rena #1: «Hum...»
Rudolfo: «Eu vou-me mandar pá! EU MATO-ME! NÃO PASSA DE HOJE!»
Rena #1: «Rudy pá. Não te mandes pá. Ai a minha vida!»
Rena #3: «Afinal o que é que aconteceu para ele se querer matar?»
Rena #1: (em voz baixa) «Acho que apanhou o Zé Manel no estábulo com a mulher dele e apareceu tarde para trabalhar hoje e o Pai Natal despediu-o».
Rena #2: «Isso é tramado».
Rena #3: «Rudolfo! És que rena tu?»
Rudolfo: «Sou a segunda rena, porquê?»
Rena #3: «Se morreres posso ficar com o teu emprego?»
Rena #1: «Então pá, isso é coisa que se diga???»
Rena #3: «Estava só a perguntar, não te passes dos cascos meu».

De repente ouve-se um grande rebuliço. Duas motas da GNR abrem espaço entre a multidão de renas e aproxima-se o Porsche Cayenne Turbo do Pai Natal, branco, com vidros fumados.

Um dos GNRs baixa da moto e bate numas renas bebés para deixar passar o Pai Natal.

Rena velha #1: (aos gritos) «Quem é? É o Carlos Cruz?»
Rena velha #2: (aos gritos) «É o Pai Natal!»
Rena velha #1: (Aos gritos) «Esses pedófilos deviam ser todos capados!»
Pai Natal: «Então o que se passa aqui hum? Estava quentinho em casa com a... er... a ver televisão, e sou chamado para o frio? Hum?»

Um assistente elfo aproxima-se do Pai Natal e conta-lhe a história ao ouvido.

Pai Natal: «Rudolfo? É verdade que te queres matar e que chegaste tarde por causa da infedelidade da tua esposa?»
Rudolfo: (em lágrimas) «É Pai Natal, é verdade».

O Pai Natal vira-se para a multidão, sobe para cima do capot do Porsche e discursa:

«O Natal é o periodo do ano em que somos todos iguais na Terra. Tanto eu, o humilde Pai Natal, que nada recebe do trabalho de caridade que faz e dá tudo aos pobres e só anda de jipe topo de gama porque parece mal andar com um carro pior, como a mais pobre das renas. O Rudolfo, quando quis ser uma rena do Pai Natal prometeu fazer tudo para que o Natal corresse bem, inclusivé chegar a tempo, seja com tempestade ou com bom tempo. O nosso empregado do mês, a rena Zé Manel, ontem chegou constipado, mas mesmo assim chegou a horas e até me trouxe um bolinho da pastelaria Doce Natal. Mas o Rudolfo deixou todas as crianças mal. Não é Rudolfo. Mas o Pai Natal não ia deixar que te matasses. Isso seria arruinares o nosso querido Natal! Nunca uma rena se suicidou no Polo Norte! Não enquanto eu for Pai Natal!».

O Pai Natal puxa da Magnum e dá um tiro no peito do Rudolfo, a la Chuck Norris.
Rudolfo cai sonoramente na neve macia e estrebucha até morrer.
O Pai NAtal entra no jipe e arranca a toda a velocidade, atrás dos batedores da GNR.

Rena #1: «Er... alguém quer tomar um copo?»
Rena velha #1: «No meu tempo os homens eram homens a sério!»
Rena #3: (a correr atrás do Porsche) «Pai Natal! Pai! Posso...? Olhe, o Rudolfo disse que eu podia ficar com o emprego dele! PAI NATAL???»

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