quarta-feira, junho 23, 2004
Traição
Enterrado.
Sem cara.
(eu sentei-me invisível a olhar)
"Aqui está enterrado Fernando Pessoa. Na lápide vêem-se textos das três personalidades que ele criou, os heterónimos. Ele também escreveu um poema épico: a Mensagem".
Hey!...
É assim que se resume uma vida?
Ele que não foi Homem
nem Natureza.
Diga antes: "Não valeu a pena".
Diga : "Mais valia os ossos espalhados na beira de estrada.
Ossos com a medula ao sol e aos abutres".
Irmão maldito...
Perdeste a vida e para quê?
Para os miúdos da escola passearem o acne dois palmos acima do teu cadáver frio sem saberem da tua loucura?
Conte-lhes - sra. guia de óculos e t-shirt branca - das noites em branco, do desespero, das ilusões, do medo (tanto medo, meu deus...), mas sobretudo da falta de amor. Conte-lhes como balouçava sozinho no vaivém do escuro ser o único abraço. De como enfim se fez noite dentro dele e uma pedra no lugar do coração. Conte-lhes...
Conte-lhes do seu canto de sirene bêbeda que me puxou para o frio e não me deixa sair.
(não consigo ficar sentado mais tempo, dá-me nojo. Tenho de sair)
Sem cara.
(eu sentei-me invisível a olhar)
"Aqui está enterrado Fernando Pessoa. Na lápide vêem-se textos das três personalidades que ele criou, os heterónimos. Ele também escreveu um poema épico: a Mensagem".
Hey!...
É assim que se resume uma vida?
Ele que não foi Homem
nem Natureza.
Diga antes: "Não valeu a pena".
Diga : "Mais valia os ossos espalhados na beira de estrada.
Ossos com a medula ao sol e aos abutres".
Irmão maldito...
Perdeste a vida e para quê?
Para os miúdos da escola passearem o acne dois palmos acima do teu cadáver frio sem saberem da tua loucura?
Conte-lhes - sra. guia de óculos e t-shirt branca - das noites em branco, do desespero, das ilusões, do medo (tanto medo, meu deus...), mas sobretudo da falta de amor. Conte-lhes como balouçava sozinho no vaivém do escuro ser o único abraço. De como enfim se fez noite dentro dele e uma pedra no lugar do coração. Conte-lhes...
Conte-lhes do seu canto de sirene bêbeda que me puxou para o frio e não me deixa sair.
(não consigo ficar sentado mais tempo, dá-me nojo. Tenho de sair)
terça-feira, junho 22, 2004
>storm<
Nuno H, 2004
Photoshop on Canvas
quarta-feira, junho 16, 2004
Uma lâmina e a minha vida
Perdoa-me a crueldade.
Porque eu não sou realmente cruel. São os teus olhos.
Perdoa-me enfim a falta de tudo, no nada de um virar de costas.
Eu sei este caminho de cor...
Vi estas casas pobres ao longe e fiquei mais cansado ainda.
Perdoa-me que venho de longe, ao menos por isso. Mostra a sinceridade possível, a compreensão piedosa.
Dá-me um caldo quente e uma colher enferrujada.
Deita-me os olhos raivosos que não discutem por conveniência.
Eu vou partir à noite e não vou regressar, não leves a mal a minha malvadez inocente.
Venho com as mãos vazias, descalço de intenções, são para que compreendas, não para que perdoes.
Irei com os olhos por terra de volta à minha casa.
Vim são para que visses o meu sofrimento na viagem. Estes passos enormes.
Pesa-me nas costas o nada e nas pernas o tudo.
Quando se pára, sente-se intensamente a dor do caminho percorrido.
Virei aqui as vezes que for preciso.
Não para que perdoes, mas para que vejas.
Porque eu não sou realmente cruel. São os teus olhos.
Perdoa-me enfim a falta de tudo, no nada de um virar de costas.
Eu sei este caminho de cor...
Vi estas casas pobres ao longe e fiquei mais cansado ainda.
Perdoa-me que venho de longe, ao menos por isso. Mostra a sinceridade possível, a compreensão piedosa.
Dá-me um caldo quente e uma colher enferrujada.
Deita-me os olhos raivosos que não discutem por conveniência.
Eu vou partir à noite e não vou regressar, não leves a mal a minha malvadez inocente.
Venho com as mãos vazias, descalço de intenções, são para que compreendas, não para que perdoes.
Irei com os olhos por terra de volta à minha casa.
Vim são para que visses o meu sofrimento na viagem. Estes passos enormes.
Pesa-me nas costas o nada e nas pernas o tudo.
Quando se pára, sente-se intensamente a dor do caminho percorrido.
Virei aqui as vezes que for preciso.
Não para que perdoes, mas para que vejas.
Nunca se encontra uma Amnistia Internacional quando é preciso
Reclusos fazem greve ao trabalho
Reclusos da prisão de Vale de Judeus fizeram, quarta-feira, greve ao trabalho e vão fazer um levantamento de rancho ao almoço, em resposta a um alegado condicionamento das suas chamadas telefónicas.
Parte mais chocante desta noticia: os gajos que estão presos trabalham??? Já não chega estar preso? Pensava que estas coisas são aconteciam nas prisões brasileiras.
Reclusos da prisão de Vale de Judeus fizeram, quarta-feira, greve ao trabalho e vão fazer um levantamento de rancho ao almoço, em resposta a um alegado condicionamento das suas chamadas telefónicas.
Parte mais chocante desta noticia: os gajos que estão presos trabalham??? Já não chega estar preso? Pensava que estas coisas são aconteciam nas prisões brasileiras.
terça-feira, junho 15, 2004
É bom
É bom ter sonhos.
É bom ver que estamos a sorrir sem saber como começou.
É bom o cheiro da chuva.
É bom olhar para o azul do céu e ver mais.
É bom sentir o infinito com os dedos.
É bom amar.
É bom ser amado.
É bom ser sincero sem ter medo.
É bom andar numa rua com árvores.
É bom fechar os olhos.
É bom ouvir música de que se gosta.
É bom conseguir coisas pequenas.
É bom ter a atenção de pessoas boas no coração.
É bom vencer sem espezinhar.
É bom estar calmo no turbilhão.
É bom saber o que interessa.
É bom viver sem noção das horas.
É bom não ser hipócrita.
É bom ter sonhos.
É bom ver que estamos a sorrir sem saber como começou.
É bom o cheiro da chuva.
É bom olhar para o azul do céu e ver mais.
É bom sentir o infinito com os dedos.
É bom amar.
É bom ser amado.
É bom ser sincero sem ter medo.
É bom andar numa rua com árvores.
É bom fechar os olhos.
É bom ouvir música de que se gosta.
É bom conseguir coisas pequenas.
É bom ter a atenção de pessoas boas no coração.
É bom vencer sem espezinhar.
É bom estar calmo no turbilhão.
É bom saber o que interessa.
É bom viver sem noção das horas.
É bom não ser hipócrita.
É bom ter sonhos.
domingo, junho 13, 2004
Ho Ligaí mesmo
Tarde de Ontem. O autocarro da Marcha da Ajuda abana alegramente ao som ritmado da Marcha "Vivás flores de Portugali". Uma senhora de 145 kg lidera as vozes, fazendo vibrar os plásticos e os assentos.
Marchante #1: «É meninos é cantar! É cantar!»
Marchante #2: «Ouve lá, mas Portugal perdeu, era suposto nós estarmos contentes?»
Marchante #3: «As marchas não é comó futebol pá. O S. António é de Lisboa, não é de Portugal!»
Marchante #1: «PORTUGALI!»
Marchante #3: «Desculpa, Portugali. Portugali!»
Marchantes (em coro dentro da caminete): «PORTUGALI! PORTUGALI!»
Nesta altura, por azar, passam no Rossio ao pé dos ingleses.
Condutor do autocarro: «Olha tanto bife!»
Marchante #2: «Bifes, adonde?»
Marchante #3: «Para o trolei, para irmos aos bifes!»
Marchante #1: «Tão a dar bifes! VAMOS TODOS!»
Saem todos o trolei... er... do autocarro a correr. Quando vêem que afinal os bifes são gajos branquinhos bêbados, dá-se a revolta generalizada.
D. Maria de Lurdes, 65 anos, atira uma garrafa vazia de uma mini (alguns dizem que foi uma med, mas acho que foi uma mini) à cabeça de um skinhead.
Skinhead #1: «Ai, Porra!»
Skinhead #2: «Estes portugueses são maluques! Holly Shit!»
Segue-se uma cena de carnificina total. As amigas da D. Lurdes mandam uma chuva de mines vazias, tipo setas naqueles filmes rascos da Joana D'Arc.
Os ingleses põem-se em fuga, instala-se o pânico.
Quando chega a RTP, a D. Lurdes põe uma mine na mão de um inglês desmaiado e acusa-o de vandalismo contra uma velhinha indefesa, fingindo ter uma quebra de tensão por causa do gás pimenta.
A sua filha grita que um bebé pequeno (sim, há bebés crescidos, não sejam assim!) está dentro do trolei em dificuldade, provavelmente porque não consegue descer sozinho.
Marchante #1: «É meninos é cantar! É cantar!»
Marchante #2: «Ouve lá, mas Portugal perdeu, era suposto nós estarmos contentes?»
Marchante #3: «As marchas não é comó futebol pá. O S. António é de Lisboa, não é de Portugal!»
Marchante #1: «PORTUGALI!»
Marchante #3: «Desculpa, Portugali. Portugali!»
Marchantes (em coro dentro da caminete): «PORTUGALI! PORTUGALI!»
Nesta altura, por azar, passam no Rossio ao pé dos ingleses.
Condutor do autocarro: «Olha tanto bife!»
Marchante #2: «Bifes, adonde?»
Marchante #3: «Para o trolei, para irmos aos bifes!»
Marchante #1: «Tão a dar bifes! VAMOS TODOS!»
Saem todos o trolei... er... do autocarro a correr. Quando vêem que afinal os bifes são gajos branquinhos bêbados, dá-se a revolta generalizada.
D. Maria de Lurdes, 65 anos, atira uma garrafa vazia de uma mini (alguns dizem que foi uma med, mas acho que foi uma mini) à cabeça de um skinhead.
Skinhead #1: «Ai, Porra!»
Skinhead #2: «Estes portugueses são maluques! Holly Shit!»
Segue-se uma cena de carnificina total. As amigas da D. Lurdes mandam uma chuva de mines vazias, tipo setas naqueles filmes rascos da Joana D'Arc.
Os ingleses põem-se em fuga, instala-se o pânico.
Quando chega a RTP, a D. Lurdes põe uma mine na mão de um inglês desmaiado e acusa-o de vandalismo contra uma velhinha indefesa, fingindo ter uma quebra de tensão por causa do gás pimenta.
A sua filha grita que um bebé pequeno (sim, há bebés crescidos, não sejam assim!) está dentro do trolei em dificuldade, provavelmente porque não consegue descer sozinho.
Hooliganismo nas marchas de Lisboa
Parece que o fenómeno está a torna-se global.
Elementos da Marcha da Ajuda apedrejaram adeptos ingleses, forçando estes a porem-se em fuga pelas ruas estreitas das colinas.
Qual Corpo de Intervenção qual quê... Punham os gajos das Marchas a patrulhar Lisboa a ver se os ingleses não andavam ali quietinhos que nem um rato! Ah pois é.
Já agora: ninguém se lembrou que se calhar (só se calhar) era boa ideia não meter os autocarros das marchas no meio dos ingleses bêbados? Talvez não fosse má ideia planear estas cenas com um coche de antecedência.
Acabo por mandar um passobem ao Madail que não tinha lugar para se sentar quando começou o jogo Grécia-Portugal. Madail, força aí, no próximo leva um banquinho cromo.
Elementos da Marcha da Ajuda apedrejaram adeptos ingleses, forçando estes a porem-se em fuga pelas ruas estreitas das colinas.
Qual Corpo de Intervenção qual quê... Punham os gajos das Marchas a patrulhar Lisboa a ver se os ingleses não andavam ali quietinhos que nem um rato! Ah pois é.
Já agora: ninguém se lembrou que se calhar (só se calhar) era boa ideia não meter os autocarros das marchas no meio dos ingleses bêbados? Talvez não fosse má ideia planear estas cenas com um coche de antecedência.
Acabo por mandar um passobem ao Madail que não tinha lugar para se sentar quando começou o jogo Grécia-Portugal. Madail, força aí, no próximo leva um banquinho cromo.
sábado, junho 12, 2004
Portugal é o maior pá
Se Portugal não é esquizofrénico, eu não sei que país será. Isto um dia estamos lá em cima, é bandeiras por todo o lado, no dia a seguir já ninguém acredita em nada.
E não se estava mesmo nada a ver que iamos perder o primeiro jogo nem nada pá... lol
um ps para o Scolari: é para veres o que dá falar contra o Glorioso. Toma!
E não se estava mesmo nada a ver que iamos perder o primeiro jogo nem nada pá... lol
um ps para o Scolari: é para veres o que dá falar contra o Glorioso. Toma!
quinta-feira, junho 10, 2004
Memórias do verão
Memórias do verão
...de te embalar no vagar das ondas limadas pelo sol intenso.
(sentes o sol intenso a queimar-te a pele?)
memórias de este verão ainda,
de caminhar na areia,
de fechar os olhos e ouvir o mar,
que é rio, que é mar aqui perto.
De estares comigo,
memórias como os pés enterrados na água fresca
que aquece com a nossa pele quente.
há memórias em todos os movimentos dos corpos que nos rodeiam,
memórias de ser um dia só,
o dia em que te balancei por cima das ondas,
que sentimos parados a rebentação distante.
porquê sair deste mar de lembrança?
confia no cheiro a sal.
tudo pode ser sempre de todas as maneiras,
já adivinhava o mestre cego ao morrer.
(ouves o mar?)
vamos deixar o tempo
trocá-lo por espuma e sal
e dos nossos dias fazer o rosário.
sentidos sem norte que desmaia perdido.
tu e eu perenes assim, para todo o sempre.
...de te embalar no vagar das ondas limadas pelo sol intenso.
(sentes o sol intenso a queimar-te a pele?)
memórias de este verão ainda,
de caminhar na areia,
de fechar os olhos e ouvir o mar,
que é rio, que é mar aqui perto.
De estares comigo,
memórias como os pés enterrados na água fresca
que aquece com a nossa pele quente.
há memórias em todos os movimentos dos corpos que nos rodeiam,
memórias de ser um dia só,
o dia em que te balancei por cima das ondas,
que sentimos parados a rebentação distante.
porquê sair deste mar de lembrança?
confia no cheiro a sal.
tudo pode ser sempre de todas as maneiras,
já adivinhava o mestre cego ao morrer.
(ouves o mar?)
vamos deixar o tempo
trocá-lo por espuma e sal
e dos nossos dias fazer o rosário.
sentidos sem norte que desmaia perdido.
tu e eu perenes assim, para todo o sempre.
terça-feira, junho 08, 2004
Povoação deixada aos lobos
Povoação deixada aos lobos
(por inspiração deliberada de Cesariny)
seis horas, digo seis não sete depois do último habitante ter partido
para a França dos mortos, paraíso da igreja, inferno dos pecados
a taberna fechou a porta sonoramente, com um ruído de machado a enterrar-se.
Com a penumbra,
Vieram os lobos em matilha.
Primeiro o mais velho, que ficou onde era a câmara
Depois os outros,
Por hierarquia nunca estabelecida
Ocupando as ruas,
Uma a uma,
Até todas as casas terem luz novamente,
Terem novamente uma familia ocupante.
O lobo presidente uivou regulamentos
Os outros reuniram-se em procissão e levavam coelhos em corsos ridiculos
Mortos com e sem pele e com e sem entranhas.
De manhã os lobinhos iam à escola.
De tarde os lobos chegavam da caça e iam para a taberna,
Tinha um arrancado o machado com os dentes
Atirando-o para a calçada de xisto polido
Com um expirar profundo de cansaço e ódio,
pó de água nas narinas velhas.
Um dia veio ainda o carteiro enganado.
Fizeram-lhe uma embuscada
Mas deixaram-no fugir sem um braço
Com as cartas a cair da mala descosida.
Nas noites de lua cheia
O presidente uivava o recolher obrigatório
Chamava os jovens ao sacrificio
Vinham todos arrastando as patas
Mordendo com a disciplina as mulheres.
Secos, deslumbrantes,
Os seus gritos ouviam-se pelas montanhas,
Acordavam aldeias distantes do seu sono tranquilo.
Com a emoção
Nessa noite os lobinhos não dormiam
Nas suas camas de palha
Já a pensar na próxima lua cheia.
Até ao dia
Em que vieram os caçadores
Em busca de prémio
Em busca de vingança por nada
Em busca de almas selvagens.
Fizeram-lhes embuscada.
Não havia esta história de acabar mal.
Embuscada, sim senhor.
Deixaram-nos fugir como o carteiro
Com um braço
Mas não com o mesmo,
Com o esquerdo,
Que o direito segura a espingarda,
Que o direito a carrega de cartuchos,
De chumbo e malicia.
(por inspiração deliberada de Cesariny)
seis horas, digo seis não sete depois do último habitante ter partido
para a França dos mortos, paraíso da igreja, inferno dos pecados
a taberna fechou a porta sonoramente, com um ruído de machado a enterrar-se.
Com a penumbra,
Vieram os lobos em matilha.
Primeiro o mais velho, que ficou onde era a câmara
Depois os outros,
Por hierarquia nunca estabelecida
Ocupando as ruas,
Uma a uma,
Até todas as casas terem luz novamente,
Terem novamente uma familia ocupante.
O lobo presidente uivou regulamentos
Os outros reuniram-se em procissão e levavam coelhos em corsos ridiculos
Mortos com e sem pele e com e sem entranhas.
De manhã os lobinhos iam à escola.
De tarde os lobos chegavam da caça e iam para a taberna,
Tinha um arrancado o machado com os dentes
Atirando-o para a calçada de xisto polido
Com um expirar profundo de cansaço e ódio,
pó de água nas narinas velhas.
Um dia veio ainda o carteiro enganado.
Fizeram-lhe uma embuscada
Mas deixaram-no fugir sem um braço
Com as cartas a cair da mala descosida.
Nas noites de lua cheia
O presidente uivava o recolher obrigatório
Chamava os jovens ao sacrificio
Vinham todos arrastando as patas
Mordendo com a disciplina as mulheres.
Secos, deslumbrantes,
Os seus gritos ouviam-se pelas montanhas,
Acordavam aldeias distantes do seu sono tranquilo.
Com a emoção
Nessa noite os lobinhos não dormiam
Nas suas camas de palha
Já a pensar na próxima lua cheia.
Até ao dia
Em que vieram os caçadores
Em busca de prémio
Em busca de vingança por nada
Em busca de almas selvagens.
Fizeram-lhes embuscada.
Não havia esta história de acabar mal.
Embuscada, sim senhor.
Deixaram-nos fugir como o carteiro
Com um braço
Mas não com o mesmo,
Com o esquerdo,
Que o direito segura a espingarda,
Que o direito a carrega de cartuchos,
De chumbo e malicia.
segunda-feira, junho 07, 2004
Porque matas, Deus, impunemente?
Há uma velha piada sobre Fátima que é mais ou menos assim:
"S. Pedro, S. António e a Nossa Senhora de Fátima estão no céu a tentar combinar um almoço. Não sabem onde ir e os dois santos sugerem sitios pouco entusiasmantes, até que a Nossa Senhora diz: «Sabem um sitio que dizem que é giro e onde eu nunca fui? Fátima!»".
Hoje soube que 6 pessoas foram colhidas quando iam pagar uma promessa ao Santuário. 2 morreram, uma delas uma miúda de 17 anos.
Não é propriamente uma novidade pessoas morrerem nas estradas, mas isto é - meus caros senhores e senhoras - muito diferente. É que eles iam "pagar uma promessa", iam em "viagem de fé".
A primeira coisa que um agnóstico ou um ateu pergunta é: «Porque é que a Nossa Senhora não os conseguiu proteger?". Um crente tenderá mais a longo a considerar esta tragédia talvez como uma "prova de fé", porque a generosidade da fé não é algo usado em favor de uma retribuição, imediata ou desejada, mas antes uma dádiva sem contrapartida, nascida do amor.
Mais do que estar chocado, eu fiquei pensativo sobre as consequências de tudo isto.
Imaginei o que pensavam as pessoas afectadas, como estariam abaladas na sua fé. É diferente quando o drama é pessoal e nos atinge, como verdadeira "prova de fé".
É comum dizer-se que a fé é uma coisa natural nas mentes pobres de espirito, relutantes em pensar autonomamente. Eu não penso que seja assim. Penso que há nobreza nas convicções, quando há nelas sinceridade. Tudo o que é sincero é nobre.
Mas há com toda a certeza uma nobreza que eu próprio dificilmente consigo entender em alguém que vê um familiar próximo ser colhido na viagem de fé sem pôr a pergunta que eu coloquei como titulo deste post.
Uma nobreza deslumbrante e incompreensível...
"S. Pedro, S. António e a Nossa Senhora de Fátima estão no céu a tentar combinar um almoço. Não sabem onde ir e os dois santos sugerem sitios pouco entusiasmantes, até que a Nossa Senhora diz: «Sabem um sitio que dizem que é giro e onde eu nunca fui? Fátima!»".
Hoje soube que 6 pessoas foram colhidas quando iam pagar uma promessa ao Santuário. 2 morreram, uma delas uma miúda de 17 anos.
Não é propriamente uma novidade pessoas morrerem nas estradas, mas isto é - meus caros senhores e senhoras - muito diferente. É que eles iam "pagar uma promessa", iam em "viagem de fé".
A primeira coisa que um agnóstico ou um ateu pergunta é: «Porque é que a Nossa Senhora não os conseguiu proteger?". Um crente tenderá mais a longo a considerar esta tragédia talvez como uma "prova de fé", porque a generosidade da fé não é algo usado em favor de uma retribuição, imediata ou desejada, mas antes uma dádiva sem contrapartida, nascida do amor.
Mais do que estar chocado, eu fiquei pensativo sobre as consequências de tudo isto.
Imaginei o que pensavam as pessoas afectadas, como estariam abaladas na sua fé. É diferente quando o drama é pessoal e nos atinge, como verdadeira "prova de fé".
É comum dizer-se que a fé é uma coisa natural nas mentes pobres de espirito, relutantes em pensar autonomamente. Eu não penso que seja assim. Penso que há nobreza nas convicções, quando há nelas sinceridade. Tudo o que é sincero é nobre.
Mas há com toda a certeza uma nobreza que eu próprio dificilmente consigo entender em alguém que vê um familiar próximo ser colhido na viagem de fé sem pôr a pergunta que eu coloquei como titulo deste post.
Uma nobreza deslumbrante e incompreensível...
sexta-feira, junho 04, 2004
Diálogos das Europeias II
Ilda Figueiredo: «Olhe lá, quanto é que a senhora tem de pensão?»
Velhinha reformada: (a gritar) «Trin... Trinta e seis contos por mês»
Ilda: «Sabe. Deviamos era pedir à Ministra das Finanças para viver com a sua pensão, só por um mês que fosse!»
Velhinha: «O quê!? E depois como é que eu comia???»
Velhinha reformada: (a gritar) «Trin... Trinta e seis contos por mês»
Ilda: «Sabe. Deviamos era pedir à Ministra das Finanças para viver com a sua pensão, só por um mês que fosse!»
Velhinha: «O quê!? E depois como é que eu comia???»
Adoro a minha familia
Pai: "Agora já tenho idade para ter um neto"
Eu: "Mas queres um neto para quê?"
Pai: "Agora estou mais em casa. Era para passear com ele. Ias ver que o miúdo não me largava"
Mãe: "Um netinho era engraçado"
Eu: "Se é para andar a passear com ele, compras um cão"
Mãe: "Um cão não é a mesma coisa"
Eu: "Se é para pôr uma trela no puto e andar a passeá-lo..."
Pai: "A um miúdo ensinavas coisas"
Eu: "A um cão também. Eu nem gosto de cães"
Mãe: "Tu também..."
Eu: "Depois dizem que as mulheres querem ter filhos por tudo e por nada. Tu queres um para o andar a passear. Bonito"
Eu: "Mas queres um neto para quê?"
Pai: "Agora estou mais em casa. Era para passear com ele. Ias ver que o miúdo não me largava"
Mãe: "Um netinho era engraçado"
Eu: "Se é para andar a passear com ele, compras um cão"
Mãe: "Um cão não é a mesma coisa"
Eu: "Se é para pôr uma trela no puto e andar a passeá-lo..."
Pai: "A um miúdo ensinavas coisas"
Eu: "A um cão também. Eu nem gosto de cães"
Mãe: "Tu também..."
Eu: "Depois dizem que as mulheres querem ter filhos por tudo e por nada. Tu queres um para o andar a passear. Bonito"
Tamos bem tramados, tamos...
Conversa em inglês entre Sousa Franco e um turista Norueguês de tronco nu, amante do sol e de Portugal, nas Caldas da Rainha.
Tradução intermitente:
Sousa Franco: "Norueguês? É uma pena que não estejam na União Europeia".
Norueguês: "You know where to get the bacalao?"
Sousa Franco: "Yes".
Sousa Franco (para António José Seguro): "No outro dia, na Baixa de Lisboa, encontrei uns Americanos também muito simpáticos. Disseram-me : «Espero que venha a trabalhar com o John Kerry». «I hope so», respondi eu".
in Diário de Noticias; edição de 4/Junho/2004
Tradução intermitente:
Sousa Franco: "Norueguês? É uma pena que não estejam na União Europeia".
Norueguês: "You know where to get the bacalao?"
Sousa Franco: "Yes".
Sousa Franco (para António José Seguro): "No outro dia, na Baixa de Lisboa, encontrei uns Americanos também muito simpáticos. Disseram-me : «Espero que venha a trabalhar com o John Kerry». «I hope so», respondi eu".
in Diário de Noticias; edição de 4/Junho/2004
quinta-feira, junho 03, 2004
Fragmentos de luz
Apetece-me ser poético.
Ter o corpo doente caído no chão de pedra e acordar num solavanco para a torrente de luz que se ergue dominadora ao descer.
Bilhete obliterado no espanto de haver um autocarro para o desterro, sem saber que tiranos e poetas o tomaram antes de mim.
O meu coração tem o número 23 quando começa a sonhar. Tudo em mim se emociona quando me imagino perdido, nas cores, no chão duro, numa avenida de pedra que sobe sem limite nos vitrais iluminados.
Repousa no altar de mim as tuas esperanças, mulher obtusa e negra, de um jade mascado, açucar sem sabor, sentidos encurralados na esperança. Entrega a tua fé como quem condena os filhos, cegando-se pela ambição da promessa.
O teu Deus não te vai ignorar, se ao menos te humilhares a seus pés, com sinceridade. Mas tens de sucumbir realmente. Que não se adivinhe na tua pele arrependimento.
Os meus olhos doces têm uma raiva que repousa, dormente.
Dá-me a tua mão debaixo do calor do sol. Nesta floresta de luz nada é realmente o que parece. Corsos alados saltam dos vitrais em festins de cor. Alimentam-se do teu medo, sorvendo-o delicadamente, esperando uma caricia.
Quero que te sintas impotente para descrever a alguém o que aqui se passa, de como tudo é demasiado importante para ser pensado. Sente-te dominada, fraca, uma cama de palha que recebe um corpo cansado. Podes resistir, mas não tens de resistir.
Dá os teus braços em Cristo e espera pelo perdão. Sê como Cristo iludido. Como Cristo tormento na carne. Como Cristo infantil.
As cores caiem sobre mim como uma chuva suave depois da desgraça.
Como depois da desgraça que nos atacou a todos sem aviso. É uma chuva fraca que não tem significado.
Lembro-me de ter entrado aqui, mas não me vou lembrar de tudo o resto.
Há uma névoa anil em todos os meus sentimentos dormentes.
Queria ser altar alto e rendilhado, no orgulho soturno de uma dedicação sem limites ao impossível. Largado sempre à preocupação da cera que se consome e que crepita o relógio incerto da sua vida terna e pobre.
Queria ser colunata anónima fora da luz, para ver de longe a peregrinação e fechar os olhos para o som dos pés descalços e das preces.
Queria ser todos os homens e nos corações ser todos os medos e nos medos ser todos os remédios.
Queria sentir em altitude e repousar em profundidade. Tomar nas mãos os recém-nascidos para os abençoar na àgua e deitar no cenotáfio-sempre-o-mesmo o corpo daqueles que partiam inesperadamente.
Queria sentir em pétala os fotões de mim, saboreá-los pela cores e deitar na lingua serenamente cada um pela sua qualidade essencial e pura.
Degustar pela rama os mistérios da solidão e do amor para os pôr em livro aberto de orações, fora do alcance de todos, para lá da escuridão da nave principal.
Num momento de loucura, estar enterrado vivo só com o primeiro nome debaixo da laje de pedra gasta pelos pés de 40 gerações.
Sentir um sorriso falso por ver uma cara alegre.
Sentir um sorriso verdadeiro, quando começasse a chover sem piedade. Sentindo as reentrâncias das paredes ao ouvir as gotas pesadas no alcatrão lá fora, sempre sem olhar.
Ser pequeno em todas as ocasiões. Humilde.
Mas maior do que o Mundo e a Realidade, sentindo não chegar para ambas.
Haver um tempo para o peito preso, para hesitar.
Um tempo para a sinceridade sem pedir nada em troca.
Um tempo para a luz.
Ter o corpo doente caído no chão de pedra e acordar num solavanco para a torrente de luz que se ergue dominadora ao descer.
Bilhete obliterado no espanto de haver um autocarro para o desterro, sem saber que tiranos e poetas o tomaram antes de mim.
O meu coração tem o número 23 quando começa a sonhar. Tudo em mim se emociona quando me imagino perdido, nas cores, no chão duro, numa avenida de pedra que sobe sem limite nos vitrais iluminados.
Repousa no altar de mim as tuas esperanças, mulher obtusa e negra, de um jade mascado, açucar sem sabor, sentidos encurralados na esperança. Entrega a tua fé como quem condena os filhos, cegando-se pela ambição da promessa.
O teu Deus não te vai ignorar, se ao menos te humilhares a seus pés, com sinceridade. Mas tens de sucumbir realmente. Que não se adivinhe na tua pele arrependimento.
Os meus olhos doces têm uma raiva que repousa, dormente.
Dá-me a tua mão debaixo do calor do sol. Nesta floresta de luz nada é realmente o que parece. Corsos alados saltam dos vitrais em festins de cor. Alimentam-se do teu medo, sorvendo-o delicadamente, esperando uma caricia.
Quero que te sintas impotente para descrever a alguém o que aqui se passa, de como tudo é demasiado importante para ser pensado. Sente-te dominada, fraca, uma cama de palha que recebe um corpo cansado. Podes resistir, mas não tens de resistir.
Dá os teus braços em Cristo e espera pelo perdão. Sê como Cristo iludido. Como Cristo tormento na carne. Como Cristo infantil.
As cores caiem sobre mim como uma chuva suave depois da desgraça.
Como depois da desgraça que nos atacou a todos sem aviso. É uma chuva fraca que não tem significado.
Lembro-me de ter entrado aqui, mas não me vou lembrar de tudo o resto.
Há uma névoa anil em todos os meus sentimentos dormentes.
Queria ser altar alto e rendilhado, no orgulho soturno de uma dedicação sem limites ao impossível. Largado sempre à preocupação da cera que se consome e que crepita o relógio incerto da sua vida terna e pobre.
Queria ser colunata anónima fora da luz, para ver de longe a peregrinação e fechar os olhos para o som dos pés descalços e das preces.
Queria ser todos os homens e nos corações ser todos os medos e nos medos ser todos os remédios.
Queria sentir em altitude e repousar em profundidade. Tomar nas mãos os recém-nascidos para os abençoar na àgua e deitar no cenotáfio-sempre-o-mesmo o corpo daqueles que partiam inesperadamente.
Queria sentir em pétala os fotões de mim, saboreá-los pela cores e deitar na lingua serenamente cada um pela sua qualidade essencial e pura.
Degustar pela rama os mistérios da solidão e do amor para os pôr em livro aberto de orações, fora do alcance de todos, para lá da escuridão da nave principal.
Num momento de loucura, estar enterrado vivo só com o primeiro nome debaixo da laje de pedra gasta pelos pés de 40 gerações.
Sentir um sorriso falso por ver uma cara alegre.
Sentir um sorriso verdadeiro, quando começasse a chover sem piedade. Sentindo as reentrâncias das paredes ao ouvir as gotas pesadas no alcatrão lá fora, sempre sem olhar.
Ser pequeno em todas as ocasiões. Humilde.
Mas maior do que o Mundo e a Realidade, sentindo não chegar para ambas.
Haver um tempo para o peito preso, para hesitar.
Um tempo para a sinceridade sem pedir nada em troca.
Um tempo para a luz.
quarta-feira, junho 02, 2004
Angel
...e dói-me o coração.
Ouvi dizer que há um anjo para cada um, nas profundezas da vida.
Um momento em que as asas nos abraçam e confortam de toda a escuridão.
Will you be my angel?
Ouvi dizer que há um anjo para cada um, nas profundezas da vida.
Um momento em que as asas nos abraçam e confortam de toda a escuridão.
Will you be my angel?
O Durão Barroso tinha razão?
Foi relatado ontem um fenómeno estranho em diversos pontos do país. Noticia que a TSF relatou do seguinte modo:
"FENÓMENO
Luz intensa e fumo no céu de origem desconhecida
Uma luz intensa, com fumo, de origem desconhecida, foi esta noite vista em várias localidades de Portugal mas as autoridades não têm resposta para o fenómeno."
Será que é a Retoma que finalmente está a chegar, embora ainda envergonhada?
Ainda tentaram lançar um F-16 para investigar, mas parece que não pegava, por estar tanto tempo parado. Ainda foram à procura de cabos de bateria para ligar a outro F-16, mas o senhor Armindo (Mecânico da base) estava a ver os Morangos com Açucar e não atendeu o telemóvel.
"FENÓMENO
Luz intensa e fumo no céu de origem desconhecida
Uma luz intensa, com fumo, de origem desconhecida, foi esta noite vista em várias localidades de Portugal mas as autoridades não têm resposta para o fenómeno."
Será que é a Retoma que finalmente está a chegar, embora ainda envergonhada?
Ainda tentaram lançar um F-16 para investigar, mas parece que não pegava, por estar tanto tempo parado. Ainda foram à procura de cabos de bateria para ligar a outro F-16, mas o senhor Armindo (Mecânico da base) estava a ver os Morangos com Açucar e não atendeu o telemóvel.
terça-feira, junho 01, 2004
Quem é o filho mai lindo do mundo, quem é!?
No Dia Mundial da Criança, fica o tributo a todas as mães que ignoram o facto dos seus filhos as roubarem para ter dinheiro para a droga, serem feios e não terem respeito por ninguém, muito menos perspectivas de futuro.