quarta-feira, junho 23, 2004

Traição

Enterrado.
Sem cara.

(eu sentei-me invisível a olhar)

"Aqui está enterrado Fernando Pessoa. Na lápide vêem-se textos das três personalidades que ele criou, os heterónimos. Ele também escreveu um poema épico: a Mensagem".

Hey!...

É assim que se resume uma vida?

Ele que não foi Homem

nem Natureza.

Diga antes: "Não valeu a pena".

Diga : "Mais valia os ossos espalhados na beira de estrada.
Ossos com a medula ao sol e aos abutres".


Irmão maldito...
Perdeste a vida e para quê?
Para os miúdos da escola passearem o acne dois palmos acima do teu cadáver frio sem saberem da tua loucura?

Conte-lhes - sra. guia de óculos e t-shirt branca - das noites em branco, do desespero, das ilusões, do medo (tanto medo, meu deus...), mas sobretudo da falta de amor. Conte-lhes como balouçava sozinho no vaivém do escuro ser o único abraço. De como enfim se fez noite dentro dele e uma pedra no lugar do coração. Conte-lhes...

Conte-lhes do seu canto de sirene bêbeda que me puxou para o frio e não me deixa sair.

(não consigo ficar sentado mais tempo, dá-me nojo. Tenho de sair)

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