domingo, janeiro 30, 2011

sufoco.
pode haver um caminho
uma esperança futura,
intermináveis estrada
para um além estelar;
mas nada muda
nada nunca vai mudar.
sufoco.
pode haver uma maneira
de acreditarmos todos
outra vez, noutra coisa melhor
num profeta que
viva por nós.
mas nada muda.
nada vai alguma vez
mudar, a não ser
que eu me recuse a ser igual
a ti, meu irmão.
sufoco.
preciso de saber
que o que faço tem um significado
qualquer, ao menos para mim
mesmo que sou o único
que entende realmente o que
está em causa.
não respiro.
sufoco.
nesta casa velha,
neste tempo frio,
sem companhia,
com o vento assobiar
na minha imaginação.
sufoco
sufoco
sufoco.
para quê insistir
em escrever?
eu que sei perfeitamente
o que tem de ser feito
mas que evito o momento
como quem evita dizer
a verdade à viúva que já o é,
tentanto no intervalo
prevenir algo que já aconteceu.
sufoco, sem metáfora.
não respiro.

sempre ignorado.
sempre sozinho.
assim deitado
a uma existência fruste.
e eu poderia ser feliz,
num outro tempo gramatical.
mas nada disso acontece.
o que acontece é que sufoco,
o que acontece é que não consigo respirar.

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