quinta-feira, dezembro 04, 2008
Tu não és cego, és é preguiçoso
Saiu uma nova lei que diz que os Hipermercados são obrigados a acompanhar as pessoas cegas nas compras, o que se percebe e se acha até bastante bem. O Zero não podia deixar de investigar e por isso visitámos um Hiper perto de nós para analisarmos a situação.
Zero: «Olhe desculpe, onde está a pessoa que acompanha os ceguinhos nas compras?»
Senhora da recepção: «Ceguinhos não, pessoas com deficiência e incapacidades visuais»
Z: «PDIVs... Pedives... Ceguinhos soa melhor»
Senhora: «Hum?»
Z: «Olhe então e alguma ajuda hem?»
Senhora: «O senhor é uma pessoa com deficiência e incapacidades visuais?»
Z: «Não»
Senhora: (para um colega) «Temos outro a querer aproveitar-se...»
Z: «Eu não... ouça lá. Posso falar com quem acompanha os ceg... as pessoas com... os coisos?»
Senhora: «A Madalena está no break»
Z: «Que azar...»
Entretanto chega um senhor com roupa esquisita que se apoia no balcão, mas não olha para ninguém directamente.
João Manuel: «Olhe. Eu preciso de ajuda nas compras»
Senhora: «O senhor é uma pessoa com deficiência e incapacidades visuais?»
João: «Hum?»
Z: «Se é ceguinho?»
João: «Ceguinho!? Eu não sou ceguinho! Como se atreve!!»
Z: «Ele não é ceguinho»
João: «Sou invisual, meu caro senhor»
Senhora: «Pois, não sei. Só podemos dar assistência a pessoas com deficiência e incapacidades visuais...»
João: «Mas não é a mesma coisa?»
Senhora: «Tenho de falar com a minha supervisora»
A Senhora sai e vai ao escritório da supervisora. Entretanto chega a Madalena do break, toda despenteada de estar a fumar à chuva e ao vento.
Z: «É a senhora Madalena?»
Madanela: «Sim, sim. Calminha sim. Já vamos às compras. Vai comprar muitas coisas?»
Z: «Eu nã...»
M: (pegando no braço com força) «Vamos lá então. Vamos»
Z: «Ai, está a aleijar-me o braço! Eu não sou ceguinho!»
M: «Trouxe a lista?»
Z: «A lista?»
João: «Ouçam lá, foi-se tudo embora?»
Z: «Não. Olhe, o senhor pode deixar de fingir que é ceguinho, porque a senhora foi falar com a supervisora. Ainda se mete em sarilhos»
João: «Fingir? O senhor está maluco?»
M: «O senhor devia ter vergonha em fingir ter deficiência e incapacidades visuais só para ter quem lhe faça as compras»
Z: (a pensar) «Ai fazem as compras às pessoas, é? Hum... olhe, e levam as coisas pesadas ao carro?»
Entretanto chega a supervisora.
Supervisora: «Ouçam lá, o que se passa aqui?»
João: «Eu só queria ajuda nas compras. Mas estão a fazer pouco de eu ser invisual!»
Senhora: «Este senhor não confirmou que era uma pessoa com deficiência e incapacidades visuais»
João: «Sou invisual!»
Supervisora: «Pois, nós temos ordens só para ajudar pessoas com deficiência e incapacidades visuais. São ordens»
João: «Realmente estou sem palavras»
Supervisora: «Já tentou o Intermarché na Amadora?»
João: (a gritar) «Eu não vou para o Intermarché da Amadora!»
Supervisora: «Tenho de lhe pedir para ter calma, ou vou ter de chamar a segurança...»
João: «Ainda por cima?»
Chega o segurança, culturista, com 2 metros de altura.
Segurança: «O que se passa aqui?»
Supervisora: «Este senhor não é pessoa com deficiência e incapacidades visuais»
Segurança: «Devia ter vergonha. Eu tenho um primo com deficiência e incapacidades visuais»
João: «Olhem, é melhor eu ir-me embora»
Segurança: (agarrando-lhe o braço) «Eu levo-te lá fora, deixa estar»
Zoom para o segurança a espancar o João Manuel, enquanto o empurra para fora do Hiper e o lança para o chão, para o meio da chuva torrencial. João levanta-se com dificuldade e quase é atropelado por um carro que passa e o molha ainda mais, ainda lhe dando um toque de lado com um espelho que lhe parte a bengala.
Z: «Têm aqui um belo Hipermercado, sim senhor»
M: «Obrigadinha. Olhe quer batatas para fritar ou para cozer»
Z: «Não consigo ver bem, pode ser as mais pesadas»
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