sábado, setembro 09, 2006
Inverno nos carris
No meu regresso, há imagens desfocadas na janela do comboio.
Uma sombra nas rochas depois da noite que olha distante o horizonte laranja.
Não há surpresas nas nuvens rarefeitas.
Explosões no céu,
mas apenas na minha imaginação que chora.
Limpa os olhos com a manga e continua a viver - Diz-lhe uma voz severa sem tom.
...
Arrepio de linha de comboio.
Arrepio de barras de madeira intersticios.
Arrepio sensível insensível.
Odeio todas as coisas que odeio.
Odeio todas as coisas.
Shhhhhh.
Limpa os olhos e continua.
Não sejas assim.
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Lembra-te que longe há outra paragem,
onde os trilhos se soltam para se cruzarem,
num apocalipse organizado de transgressões.
Lá longe um grande terminal rubi
com carruagens forradas a eternidade
sentados nos bancos violeta grandes gafanhostos azuis
que quando falam te fazem brilhar os olhos:
Então era isso. Então era isso a verdade. Isso. A Verdade.
~º~º~º~º
Ah esquece o ridiculo de pensar.
Esquece o ridiculo de fazer seja o que for.
Lá longe, mais longe que o terminal há a explosão termonuclear.
Um sol rebelde preso à função de farol doente. Que chora lágrimas de fogo.
...
um dia ele vai rebentar
...
...
um dia ele não vai aguentar
...
Entretanto
fica
dormente na velocidade
segue com
atenção os olhos
distantes que te olham.
Sente a oscilação
barata do teu passe mensal.
A felicidade talvez
seja esta inconsequência tensa
este ruborizar pelo frio.
-- Ahh... não é ainda Inverno mas eu queria que fosse --
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