terça-feira, maio 09, 2006

Entrevista Zero - Sr. Cabresto, Presidente da Associação dos Industriais Pirotécnicos de Portugal

Sr. Cabresto fuma o seu Cohiba, perto de uma caixa de pólvora seca

Há muito que se fala do perigo que representam as fábricas de pirotecnia espalhadas pelo país. Depois de alguns meses de tentativas, o Zero conseguiu uma entrevista exclusiva com o presidente da AIPP, o Sr. Cabresto.

Zero: «Primeira pergunta. Porquê Sr. e não Dr.?»
Cabresto: «O quê? Tem de falar mais alto».
Z: «PORQUÊ SR. E NÃO DOUTOR? DOOUUTOO..»
C: «Já ouvi pá. Não cheguei a acabar o curso, porque fiquei surdo no 2.º ano».
Z: «Que curso era?»
C: «Hum?»
Z: «O CURSO? QUAL ERA O CURSO?»
C: «Era engenharia de minas».
Z: «Pois, faz sentido... Mas olhe lá, e quanto ao perigo?»
C: «Tens de falar mais alto, senão não nos entendemos».
Z: «Vou escrever as perguntas...».
C: «Não escrevas. Não vejo bem ao perto, uma explosão em 1978...»
Z: «Tou tramado com este...»
C: «Ouve lá, podias era falar mais alto».
Z: «Pronto. OUÇA LÁ. O QUE TEM A DIZER DO PERIGO DAS EXPLORAÇÕES?»
C: «Isto é uma indústria segura senhor. Ainda esta ano só tivemos 3 explosões, 2 braços e 12 dedos mutilados».
Z: «Isso é pouco???»
C: «Quando eu comecei nisto, não havia um dia que um empregado não perdesse um braço...».
Z: «Mas os empregados só têm 2 braços».
C: «Hum?»
Z: «AS PESSOAS SÓ TÊM 2 BRAÇOS!»
C: «Tenho de concordar contigo nisso».
Z: «Bem, e reparei que o senhor está a fumar. Isso não é perigoso?»
C: «O quê?»
Z: «FUMAR. PERIGOSO!»
C: «Ah isto. Pois. O médico disse-me que era perigoso. Cancro nos pulmões e tal... Mas os médicos sabem lá. Um gajo vai lá, deixa 70 euros e eles dizem o que querem pá».
Z: «E NA FÁBRICA TAMBÉM FUMA?»
C: «Pois. Mas não há crise, só é perigoso ao pé dos rastilhos».
Z: «MAS A PÓLVORA NÃO EXPLODE SEM OS RASTILHOS?»
C: «Queres-me ensinar o meu trabalho é?»
Z: «Não...»
C: «Eu se fosse a ti tinha cuidado quando fores a ligar o carro hoje».
Z: «Porquê...?»
C: «Hum...?»
Z: «Ai... a porra...».
C: «Eu não te ensino a entrevistar pois não?»
Z: «Pois não. Olhe e porque é que o sr. nunca perdeu um braço. NUNCA PERDEU UM BRAÇO?»
C: «Estes braços não são meus. Explosão em 1982. São implantes».
Z: «Porra».
C: «De noite eles mexem-se sozinhos...»
Z: «A sério?»
C: «Não. Mas podiam. Não são meus».
Z: «Pois. E TEM MAIS PARTES DO CORPO QUE NÂO SÂO SUAS?»
C: «Este nariz era de um empregado meu. Explosão em 1988. Só ficou o nariz e como ele não precisava dele, fiquei eu com ele. As orelhas foi em 1989».
Z: «89?»
C: «Ano horrivel esse. O meu irmão ficou constipado e morreu».
Z: «Pneumonia?»
C: «Nitroglicerina».
Z: «Ah. Bem acho que podemos ficar por aqui...»
C: «Posso só pedir-lhe um favor?»
Z: «Sim, diga lá».
C: «Era para ver se me ajudava a contactar aquilo da Al Quaeda. É boa oportunidade de negócios, mas não há maneira de eu arranjar o fax deles...».

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