quarta-feira, agosto 31, 2005

O país do Estado

Na história de Portugal, houve apenas um homem sério no governo e ele morreu de fome.

Não é inteiramente falsa a afirmação, relativa a um juiz hoje nome anónimo, que não cobrava o salário por honestidade e que caiu na doença por querer sobrepor o seu bom nome ao seu bom crédito.

Quando quiseram um homem honesto, chamaram-no.
Mas ele morreu e agora se chamarem um homem honesto, não haverá uma resposta.

A época dos homens honestos nunca chegou a existir em Portugal.
Não se tratou de uma geração, nem de uma linhagem, apenas de um exemplo figurativo e simbólico.

Hoje um homem honesto presta juramento a um partido e uma ideologia.
Hoje um homem honesto conhece os amigos, sobretudo quando os pode ajudar a enriquecer.
Hoje um homem honesto marca uma posição, mas nunca ousa agir se sabe que pode perder.
Hoje um homem honesto sofre o sacríficio do cargo abandonando o orgulho privado.

Em tempos de calamidade, costumavam chamar um homem honesto.
Um homem honesto punha os interesses dos outros sobre os seus próprios. Perdia o sono pelo acordar alheio. Sabia o valor do pão e do suor. Olhava para o futuro como quem olha para uma tela por acabar.

O homem honesto que já morreu,
chamaram-lhe os amigos à cama de morte
e nenhum o conhecia na doença,
fizeram-lhe peditório atrasado
como que dizendo que mais valia
morrer do que continuar soturno.

E ele morreu. Fez-lhes a vontade.

Neste país de arrependidos,
neste país de solitários,
neste país de homens desonestos,
não resta um deles com o orgulho de missão,
que acorde para um futuro por ser.

Querem a sua parte.
Corsários de Gucci.
E a sua parte é cortada.
E são servidos para a engorda.

E onde fica o orgulho?
E onde está a esperança?

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