quinta-feira, julho 14, 2005

Vidas de Cãos



Vitor é cão num quartel de bombeiros, Márcio, por seu lado, é cão na brigada de Minas e Armadilhas da PJ.

Duas vidas diferentes, mas ao mesmo tempo coincidentes em algumas tragédias pessoais.

Duas vidas que o Zero lhe dá agora em conhecer, em... Vidas de Cãos.


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Vitor nasceu na Mealhada, numa ninhada de 11 cachorros.

Vitor: «Era complicado porque eramos muitos, era muita confusão»
Zero: «Como é que a vossa mãe vos distinguia?»
Vitor: «Geralmente era cheirando o rabo»
Zero: «Teve uma infância dificil?»
Vitor: «Acho que sofri daquele sindrome do 8.º irmão. Queria impressionar o meu 9.º irmão mais novo e tomar conta do 7.º ao mesmo tempo. E quando era mais grande, tinha de dizer à minha mãe para deixar de me cheirar o rabo, que eu já era crescido...»
Zero: «Estou a ver. E o seu pai?»
Vitor: «O pai andava nos caixotes, foi lá que encontrou a mãe»

Aos dois anos houve um incêndio na casa dos donos de Vitor. Foi o momento decisivo da sua vida de cachorro, pois salvou sozinho 9 dos seus irmãos.

Zero: «Deve ter sido horrível»
Vitor: «Foi horrível»
Zero: «Deve ter sido mesmo»
Vitor: «Pois foi»
Zero: «9? E o 10.º?»
Vitor: «Uma vez roubou-me uma bola de plástico»
Zero: «Ah, tá bem»

Aos 5, Vitor foi para o quartel, treinado especialmente para missões importantes.

Zero: «Que missões cumpre agora?»
Vitor: «Vou buscar o jornal sozinho»
Zero: «E nos fogos?»
Vitor: «Durante os fogos, é quando precisam mais de mim»
Zero: «Como assim?»
Vitor: «Está pouca gente no quartel, e eles andam cansados. Por isso ajuda eu ir buscar o jornal»
Zero: «Ah»
Vitor: «Quer que lhe vá buscar o Correio da Manhã?»
Zero: «Não, deixe estar»
Vitor: «O DN? Ia-lha buscar uma Maria, mas é pequena e depois cai-me da boca»
Zero: «E não faz mais nada?»
Vitor: «Ando a treinar para ir buscar o pão. Mas ainda vai demorar um bocado»
Zero: «Porquê?»
Vitor: «Como é de manhã, eu tenho fome e tenho a tendência a comer o pão, antes de chegar ao quartel. Aquilo vai na boca e está molinho, e eu não resisto...»
Zero: «Pois... boa sorte com isso então»
Vitor: «Brigado»

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Márcio é brasileiro. Chegou a Portugal em 2003 para trabalhar na televisão, como duplo do Max, mas acabou nas ruas. Uma história tipica de imigração.

Zero: «Deve ter sido horrível»
Márcio: «Foi horrível»
Zero: «Deve ter sido mesmo»
Márcio: «Pois foi»
Zero: «Como passou esse período?»
Márcio: «Dormia na rua, nas escadas. Comia restos. Bebia nas fontes e cheirava rabos para não enlouquecer»
Zero: «Foi cheirar rabos que o salvou?»
Márcio: «Pode-se dizer que sim, cheirar rabos salvou-me da morte»

Um ano de vida nas ruas ensinou Márcio a reconhecer criminosos. Um inspector da PJ encontrou-o e levou-o para as Minas e Armadilhas.

Zero: «Chegou a conhecer o Júlio César?»
Márcio: «Hum?»
Zero: «Deu-se bem por lá?»
Márcio: «Mais ou menos. Os cães são carne para canhão, como diria o Tarzan Taborda»
Zero: «Gosta do Tarzan Taborda?»
Márcio: «Quem é que não gosta. O homem é um cromo pá»
Zero: «Acha mesmo que ele esteve em Holywood?»
Márcio: «Ele tem os cartazes. Um bocado amarelos, mas pronto...»

Nos pasados dias, em Espanha, um colega de Márcio morreu em serviço, lembrando dos perigos da profissão.

Zero: «Como recebeu a noticia?»
Márcio: «Estava no canil e começou tudo a ladrar. Tinha morrido o Banderas»
Zero: «O Banderas?»
Márcio: «Era como a gente o conhecia no ramo. Deixou duas cadelas e 32 filhos»
Zero: «Como aconteceu aquilo e o que pensa dos perigos de cheirar bombas?»
Màrcio: «Aquilo acontece. Foi o chamado snif exagerado. Deve ter fungado um bocadito e isso é fatal. É preciso concentração total»
Zero: (a rir-se) «Quando se constipa deve ser uma chatice!»
Márcio: «Engraçadinho... Veja lá se quer ver o seu perónio ao vivo...»
Zero: «Podias-me era ir buscar uma Maria»

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