terça-feira, março 08, 2005

O Chamamento



Um rasgo laranja na noite. Casacos abandonados. Cheiro a metal. Ele estava entre eles, sem que eles o soubessem. Era agora o tempo da descoberta e da insanidade. Engraçado que as paredes se aproximassem quando ele inalava. Depois perdeu-se no campo de forças da sua mente em febre. O delirio tomou-lhe conta das mãos que tremiam com a agulha. Mas ele não precisava de fechar o negócio. As sombras floresciam do chão insidioso. Elas deviam ter avisado antes de se tornar enormes, como O Chamamento. Não importa agora. Tenho de ir, mas não me consigo levantar. Azul da lua. Sem demoras. Sombras azuis. Não existimos mais assim. As paredes. Respirar. Quando respiramos. Quando as paredes se fazem. O Chamamento. Dias sem nascer. Manhãs que hesitam. Planetas parados na órbita. Sémen que morre. Vieste por aqui, mas nunca regressarás igual. É o que gostam de pensar aqueles que sucumbem pela sua ambição. Quando nenhuma ambição é verdadeira. Há apenas o avião despenhado no horizonte, os braços que se afogam no lago frio. Aperta-o junto a ti e leva-o daqui, para longe, para o mais longe que puderes. Só porque achas que é real, não quer dizer que o seja. Faz-te floresta em sonho ao menos uma vez. Sê nobre no teu esquecimento, como uma sirene de nevoeiro. Como a torre horrivel do aeroporto que não pára de girar, porque todos dependem dela. Mas ela sente intimamente como é sofrer pelos outros. Quando vai ela ter tempo para chorar quieta e silenciosa? Por agora, O Chamamento.



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