sexta-feira, janeiro 21, 2005
Uma infância nas ruas da minha cidade
Quando eu era um miúdo,
eu brincava estranho ao mundo,
nas ruas desenhadas na carpete velha do corredor.
A carpete cobria todo o corredor estreito,
do principio do quarto dos meus pais,
até onde começava a sala de jantar.
Perto da porta do meu quarto eu deitava-me,
ou às vezes ficava de joelhos no chão,
a conduzir os pequenos automóveis que
comprava em dia de feira,
domingos quentes em que ia de mão dada
com a minha mãe.
Descíamos escadas ingremes,
que eu não conseguia fazer degrau a degrau,
e depois apareciam as tendas,
e a maior, à direita,
vendia pequenos carros,
em pequenas caixas de cartão ou plástico.
Tinha alguns preferidos.
Um Oldsmobile branco - o carro normal.
Um Mercedes SL600 - a limusina.
Uma Camioneta branca de excursão.
Os outros serviam apenas para estarem estacionados,
eram estes três que se movimentavam,
nas ruas e intersecções,
fazendo curvas apertadas por entre os pormenores de cor,
disparando a velocidade proibida por cima do rendilhado arabesco.
Como era enorme,
enorme, aquele campo...
Avenidas sem fim, que eu olhava com os olhos perto do chão,
imaginando histórias para ocupar o espaço vazio do condutor.
Abrindo as portas do Mercedes a dignatários sem o ser,
vendo passar o Oldsmobile para o agarrar e lhe ler o ventre,
descobrir o modelo exacto,
a data, o país e a escala.
Por momentos o segredo desvanecia,
e eu pensava como seria conduzir realmente aquele carro lá fora.
Mas isso era um devaneio.
O que interessava realmente possuí-lo?
Eu tinha tudo o que queria nos meus dedos de criança:
O destino de uma cidade sem prédios,
de gente sem rosto,
feito tudo só de movimento,
tudo impregnado de sonho.
Lembro-me que num Natal me ofereceram um prédio.
Uma garagem de plástico, com vários andares.
Tinha uma oficina e um elevador.
Vejo-a agora à minha frente.
Mas nada era como a carpete velha,
os meus carros baratos de feira,
com as portas já entortadas pelo uso,
pintura lascada pelas colisões,
nada.
Agora que olho para o escuro do corredor estreito,
tão estreito...
penso que ainda brinco ali a um outro tempo,
sem pensar que há mais realidade do que a imaginação,
mais preocupações do que arranjar um lugar de estacionamento,
ou fazer a curva com a camioneta,
sem bater - sequer de raspão - no precioso Mercedes verde.
E um sorriso nasce na minha cara.
Sincero e tranquilo.
Ainda não me esqueci.
eu brincava estranho ao mundo,
nas ruas desenhadas na carpete velha do corredor.
A carpete cobria todo o corredor estreito,
do principio do quarto dos meus pais,
até onde começava a sala de jantar.
Perto da porta do meu quarto eu deitava-me,
ou às vezes ficava de joelhos no chão,
a conduzir os pequenos automóveis que
comprava em dia de feira,
domingos quentes em que ia de mão dada
com a minha mãe.
Descíamos escadas ingremes,
que eu não conseguia fazer degrau a degrau,
e depois apareciam as tendas,
e a maior, à direita,
vendia pequenos carros,
em pequenas caixas de cartão ou plástico.
Tinha alguns preferidos.
Um Oldsmobile branco - o carro normal.
Um Mercedes SL600 - a limusina.
Uma Camioneta branca de excursão.
Os outros serviam apenas para estarem estacionados,
eram estes três que se movimentavam,
nas ruas e intersecções,
fazendo curvas apertadas por entre os pormenores de cor,
disparando a velocidade proibida por cima do rendilhado arabesco.
Como era enorme,
enorme, aquele campo...
Avenidas sem fim, que eu olhava com os olhos perto do chão,
imaginando histórias para ocupar o espaço vazio do condutor.
Abrindo as portas do Mercedes a dignatários sem o ser,
vendo passar o Oldsmobile para o agarrar e lhe ler o ventre,
descobrir o modelo exacto,
a data, o país e a escala.
Por momentos o segredo desvanecia,
e eu pensava como seria conduzir realmente aquele carro lá fora.
Mas isso era um devaneio.
O que interessava realmente possuí-lo?
Eu tinha tudo o que queria nos meus dedos de criança:
O destino de uma cidade sem prédios,
de gente sem rosto,
feito tudo só de movimento,
tudo impregnado de sonho.
Lembro-me que num Natal me ofereceram um prédio.
Uma garagem de plástico, com vários andares.
Tinha uma oficina e um elevador.
Vejo-a agora à minha frente.
Mas nada era como a carpete velha,
os meus carros baratos de feira,
com as portas já entortadas pelo uso,
pintura lascada pelas colisões,
nada.
Agora que olho para o escuro do corredor estreito,
tão estreito...
penso que ainda brinco ali a um outro tempo,
sem pensar que há mais realidade do que a imaginação,
mais preocupações do que arranjar um lugar de estacionamento,
ou fazer a curva com a camioneta,
sem bater - sequer de raspão - no precioso Mercedes verde.
E um sorriso nasce na minha cara.
Sincero e tranquilo.
Ainda não me esqueci.
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