quinta-feira, janeiro 13, 2005

Aqui mesmo

É bom este sitio.
Aqui escrevo sem obrigação.
Mas não é um papel.
Este sitio é indefinido.
É algo no meio de algo mais.
Um interlúdio doloroso.
Meio caminho entre a caneta e o papel.
Tudo o que surge é.
Inacabado, na forma.
Completo no rabiscar inocente.
Não sei porque gosto deste sitio.
Mas não sinto a obrigação.
Não tenho de escrever.
Ninguém aqui existe com voz.
Surjo e desapareço.
Quando quero.
Quando não quero.
Mas sou só eu.
Uma música cadenciada.
Million Town, K&D Sessions
Gosto da música que não acaba.
Que acaba para começar para acabar.
Não faço sentido.
Não tenho de fazer sentido.
Sinto-me liberto de obrigações.
Azul na tranquilidade do momento.
Aqui é bom, é pacífico.
Aqui é a definição de um estado transitório gelado.
Há frio, mas há vida.
Há gelo, mas calor de movimento mais acima.
Não há som.
Não tenho de fugir.
Posso regressar, como a uma casa.
Eu que nunca tive uma casa.
Às vezes apetece fechá-la, para que fique eterna em memória.
Levar a chave no bolso imaterial.
Senti-la a bater na carne das pernas.
Agitada como eu.
Intranquila nos passos.
Um dia talvez.
Um dia tudo passa.
Enquanto isso.
Aqui mesmo.
Aqui mesmo é onde eu vou fechando os olhos cansados.

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