segunda-feira, novembro 08, 2004

Apesar dos teus olhos um vazio

Uma criança chega-se a mim quando eu estou a escrever.
Os seus olhos azuis questionam-se porque eu estou sentado, debruçado a escrever, quando tudo em minha volta se movimenta.
Eu sorrio.
Ela sorri e vai-se embora.

Poderia ela compreender o que eu escrevia?
Agora que me lembro, vou buscar a folha de papel que escrevia.
Que diz assim:

"O Rio-Mar chapas metálicas de prata, agitadas pelo vento. Sol lânguido a deitar-se ladeado por margens, no leito frio de pólvora de um rio que lava a memória dos mortos. Não resta nada do que havia antes. a paisagem é demsadio grande, demasiado intensa. os olhos não percebem o significado em todas as coisas, quando as coisas não têm significado. Doi-me o pulso... doi-me o pulso e doi-me a alma no pulso e o pulso na alma. Transversas, caem pequenas lágrimas do céu. É que, vês, eu não consigo chorar. O céu chora as lágrimas que eu nunca vou ter tão intensas e honestas. Eu sou aquele menino que fica parado a olhar... palavras borradas... palavras borradas... papel manchado... chove dentro de mim. Chove fora de mim. Chove. Chove. Chove eternamente e é tudo demasiado grande. Tudo demasiado, sempre demasiado..."

Vês pequena, apesar dos teus olhos um vazio?

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