quinta-feira, novembro 11, 2004

And if I never



Quem te mandou desejar?

O corpo metálico recolhe as rodas e lança-se no ar, pelo meio das nuvens de chuva. Mas tudo é sempre nunvens de chuva. O nevoeiro abandona-se aos meus olhos, turva a respiração e bloqueia a esperança de um céu claro.

Lembro-me do cheiro deste sítio a outro tempo.
Era um cheiro claro, definitivamente azul escuro, ou castanho claro. Dependia dos dias de vento. Ontem o vento soprava outra vez, furioso. E eu pensava quieto na minha cama de inquietações. Para quando um rascunho de paz, uma visão feliz?

O corpo metálico escurece a atravessar a chuva condensada. Todos estamos sentados em silêncio nesta viagem triste, cabisbaixos a olhar pelas janelas, protegidos pela pressão da morte lá fora. Mas a viagem nunca termina, sempre a subir, com o barulho surdo dos motores em propulsão máxima, rotores a 60º graus, a loucura a subir, a febre em flaps abertos...

Esta é a terra dos sonhos, depois das nuvens está outra vida mais perto do sol.

O corpo metálico adormece no seu esforço demasiado, até para uma máquina astral, desaparecendo para sempre dos radares dos mortais. Os peitos levantam-se e flutuam dos cintos de segurança, perante os olhares espantados. Os motores calam-se e o corpo metálico sucumbe à falta de atmosfera.

Vê mais além. Deixámos finalmente as nuvens para trás, mas agora é um imenso campo negro pejado de estrelas, como lilases, estrelas como flores selvagens...


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