quinta-feira, julho 22, 2004
Torre
Por vezes sinto-me impotente. Como a luz morta que abandona uma torre no fim do dia.
Os meus sentimentos esmorecem lentamente, enquanto o calor se dissipa. Costas de um corpo virado para o sol que morre.
Sinto-te alta numa torre.
Torre porque esquecimento.
Torre porque negridão.
Torre inacessivel.
Fosse eu diferente e este abandono ia-me assustar da presença desta amálgama de ferro e vidro, obra estranha à natureza e estranha aos homens, apenas familiar ao meu coração de mágoa.
Mas eu não sou diferente. Eu fico sempre à sombra das torres, conhecendo intimamente as suas sombras mal afiadas, os seus olhos por janelas de escitório onde trabalham pessoas que não têm braços para onde regressar depois do dia de trabalho.
Há algo de assustadoramente belo neste cume industrial, neste cume de metal.
Todos os prédios me falam quando os olho. Há em todas as contruções o inexplicável de serem construções.
Sinto que desfaleço.
Sinto que desvanece em mim o calor, para uma noite de luzes apagadas à espera de novo acordar.
O meu coração é um trabalhor cansado, amarelo fruste, sucumbindo às luzes fluorescentes pálidas no tecto.
Mas só me apetece olhar.
Só me apetece o silêncio de sentir o vento que fustiga as arestas suaves.
Só.
É assim que me conforto, na paz tímida do segredo.
Há na torre que sinto com as mãos, a história de todas as desilusões.
Eu não quero chorar, mas ficar assim, diluído em não existir no mundo.
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