terça-feira, maio 25, 2004
Quem eu sempre fui
MÁRIO: "Sempre quando olhava a beleza que descia a rua, perto das montras, eu a desejava na sua rudeza agreste, desconhecida. Todo o meu desejo era possuí-la nos braços, beber dela até estar saciado, transbordante do seu riso e da sua cor. Nada em mim era animal, mas doce, num enlevo. Por isso nunca a possuía, porque procurá-la era ser animal e eu nada de animal tenho em mim. A felicidade que conheci nos braços de mulheres, foi por elas me terem conquistado, porque eu nunca amei. Por me fartar aquilo mesmo que nunca tive, ao ponto de o tédio inundar toda a atenção em mim. Tudo quanto, irreal, sonhei em mim, pouco deixa para o real fora de mim. Fui escolástico e mestre de obras cansado, pedinte e caçador bêbado de sangue. Partia sempre, mas sempre regressava à dor que era a minha. Tudo ruia sempre igual, no silêncio".
(in Nuno H, Delírios morrendo em cetins)
(in Nuno H, Delírios morrendo em cetins)
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