sexta-feira, março 05, 2004

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Interlúdio Secreto


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Hoje lembraste-te de mim.
Hoje lembrei-me de outra pessoa.
Telefonaste-me e ficamos a falar
Nunca disse o teu nome
Nunca estou contigo
Mas nada disto interessa
A minha máquina de escrever é antiga
Escura, negra, e as teclas fazem um som sinistro
Que me inspira e me força a escrever num estilo
Morbidamente incaracteristico
Na realidade
Eu não quero ser um escritor morbidamente sinistro
Eu quero escrever sobre as rosas
As flores lá fora
Mas esta maldita máquina de escrever…
Não o consigo evitar
Algo em mim se emociona
No rumor alternado
Compassado
Destas teclas que passaram por outras mãos
Teclas sem piedade
Que se recusam a ser banais
Porque pensam que falar de flores é banal
Se as engano agora
É por ter um tom sinistro a falar de flores
Porque enquanto escrevo lentamente
Mesmo assim carrego com força
E o ferro negro bate assustador contra o papel
E quando tudo recomeça com novo parágrafo
A máquina esquece-se do que escreveu
Maldita máquina de escrever
Porque a tenho não sei
Ou sei, mas prefiro não dizer
Para não ter de dizer que não tenho mãos
Mas então como escreves à máquina de escrever?
É que…
Vês…
Eu também não tenho uma máquina de escrever



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