sexta-feira, março 05, 2004

Eternal Boulevards of Dream and Foam

Tardes dormentes no enorme Resort.
Uma mulher vestida de vermelho ri como chamas no bar do grande hotel. Numa câmara lenta horrível e candenciada, o seu riso num fluxo impiedoso lembra suplicios de atenção. O copo na sua mão, um tentáculo grosseiro e ineficaz para apagar a sua insegurança de diva de cinema no auge.

«Right here inspector. Right here...»

Há por aqui quem se lembre daquela noite fatidica de Dezembro.
Porque acontecem sempre os homicidios em Dezembro...
Dois homens vestidos de negro entraram sem tirar o chapéu de feltro, mostrando as carteiras brilhantes de couro.

«It's a matter of national security»

Enquanto eles andavam na carpete de veludo, os seus sapatos brilhando à luz da lua, no quarto 321 ela gritava de prazer, fechando os olhos e roçando as unhas nas costas vermelhas do seu amante.
No love is ever holly, undemanding...
Saberia ela que não procuravam?

«Come with us. No time to lose. Put some clothes on»

Noite. Sem luz.
O grande Chevy é negro como o céu sem estrelas. O seu assento traseiro, um outro universo de pesadelo, sufocado o corpo quente tirado à pressa do ardor da cama, mexendo a pele contra o vinil ruidoso. Movimentos involuntários pela suspensão pesada e rasgos de luz que perturbam os olhos ao bater nos veios metálicos do volante.

Ruidosamente.
Passando os vermelhos no guinchar de rodas.
Um raio sem cor na autoestrada que se perde no horizonte.

Para uma base abandonada... no deserto... com guardas sem face...

Comments:

Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?