domingo, fevereiro 15, 2004
Eternidade I
Era o último bom dia de verão. Levaste-me contigo sem palavras para onde viviam os teus olhos proibidos. A noite estava clara e as ondas batiam na praia oceano, num azul que eu desconhecia poder existir. Um calor seco permeava todas as coisas e um som seco subia desde as rochas escarpadas da encosta que entrava em imaginação pela varanda com portas de vidro abertas.
Era o último bom dia do ano. Lentamente, sem palavras cheguei-me perto da tua pele, a minha cara perto da tua cara, acariciei-te sem te tocar, pelo cheiro, insinuação. Sorriste num suspiro e deixaste cair o cabelo sem me olhar. Sem saber como, estava deitado a teu lado e o mar estava dentro do nosso quarto, em calor e em sal, nas vagas violentas dos teus gestos parados.
Era o último dia das nossas vidas. Ficámos sem saber como reagir senão por inércia. Deitei-me no regaço quente do teu estômago, a minha face na tua pele e esperei por um milagre que sabia ser impossível. Não disseste nada, querias a eternidade. Olhei-te nos olhos, azuis como o mar que nos rodeava e nos impedia de fugir. Dei-te a eternidade sem saber como. Tu sorriste e acariciaste o meu cabelo. Eu passei os meus dedos pelos teus dedos. Fechei os olhos e senti-te profundamente, o teu calor, a tua pulsação. Estivemos vivos como os deuses temem que estejamos vivos. Num sonho proibido fomos uma só alma, um só desejo. No teu regaço, eternidade. No teu regaço. Eternidade.
Era o último dia. Contei-te sem medo a história de uma árvore chinesa que vive no equilíbrio impossível de uma encosta, como aquela que nos impede de fugir. Contei-te como as raízes se afundaram fundo nas rochas dormentes, sustendo-a a crescer num ângulo impossível. Mas ela era verde e feliz no seu desafio e na sua coragem. Gostavas de me ouvir. Eu gostava de te contar as coisas que imaginava serem reais. Gostava de te alimentar de palavras para depois chegar os meus dedos aos teus lábios com comida. Frutos secos, pão sem fermento. O pão das árvores e o pão do ventre dos homens. Repousámos dias sem fim, a chorar lágrimas pesadas pela nossa felicidade e a mera lembrança faz-me chorar novamente. Era o último dia das nossas vidas e subitamente vimos que afinal não havia um mar lá fora, apenas a chuva forte que arrastava as águas pela rua mal iluminada. Uma grande tempestade, uma enorme tempestade, a rugir. Eternidade.
Era o último bom dia do ano. Lentamente, sem palavras cheguei-me perto da tua pele, a minha cara perto da tua cara, acariciei-te sem te tocar, pelo cheiro, insinuação. Sorriste num suspiro e deixaste cair o cabelo sem me olhar. Sem saber como, estava deitado a teu lado e o mar estava dentro do nosso quarto, em calor e em sal, nas vagas violentas dos teus gestos parados.
Era o último dia das nossas vidas. Ficámos sem saber como reagir senão por inércia. Deitei-me no regaço quente do teu estômago, a minha face na tua pele e esperei por um milagre que sabia ser impossível. Não disseste nada, querias a eternidade. Olhei-te nos olhos, azuis como o mar que nos rodeava e nos impedia de fugir. Dei-te a eternidade sem saber como. Tu sorriste e acariciaste o meu cabelo. Eu passei os meus dedos pelos teus dedos. Fechei os olhos e senti-te profundamente, o teu calor, a tua pulsação. Estivemos vivos como os deuses temem que estejamos vivos. Num sonho proibido fomos uma só alma, um só desejo. No teu regaço, eternidade. No teu regaço. Eternidade.
Era o último dia. Contei-te sem medo a história de uma árvore chinesa que vive no equilíbrio impossível de uma encosta, como aquela que nos impede de fugir. Contei-te como as raízes se afundaram fundo nas rochas dormentes, sustendo-a a crescer num ângulo impossível. Mas ela era verde e feliz no seu desafio e na sua coragem. Gostavas de me ouvir. Eu gostava de te contar as coisas que imaginava serem reais. Gostava de te alimentar de palavras para depois chegar os meus dedos aos teus lábios com comida. Frutos secos, pão sem fermento. O pão das árvores e o pão do ventre dos homens. Repousámos dias sem fim, a chorar lágrimas pesadas pela nossa felicidade e a mera lembrança faz-me chorar novamente. Era o último dia das nossas vidas e subitamente vimos que afinal não havia um mar lá fora, apenas a chuva forte que arrastava as águas pela rua mal iluminada. Uma grande tempestade, uma enorme tempestade, a rugir. Eternidade.
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