domingo, janeiro 25, 2004

Amor-Ódio

Odeio.
Odeio a necessidade de ti.
Para me vingar, hei-de ser - permanentemente - sozinho em mim, mesmo contigo.

Porque tenho de te ter a ti?
Odeio. Odeio-te por teres de existir para mim.
Para me vingar, serás sempre mais do que apenas amada. Serás odiada por mim.

Odeio a necessidade de ti.
Ando sozinho dentro de mim e fora, tu estás sempre presente.
Mas dentro, dentro de mim, andarei sempre sozinho.
É esta minha vingança que ainda me faz sorrir, quando penso o quanto te odeio, por precisar de ti.

Pensas que sou teu?
Eu não sou de ninguém, nem de mim próprio.
Sou um espasmo sem paternidade, osso partido na distância, grito sem som e sem eco.
Sou o vazio de que o vazio é feito e nesse vazio, a porção mais fria e inesperada.
Ser teu? Deixa-me rir. Deixa-me troçar do teu coração aberto.
Ninguém é de ninguém... não o sabias?

Eu canto a sombra, como a ave da manhã.
Mesmo no leito a teu lado.
Os meus olhos são desespero quando penso e tu... nada.
Há povos perdidos no meu andar, ciganos com as pernas doridas de não ter pátria.
Grandes exércitos no silêncio das armaduras, em passo certo e ritmado sem inimigo.

Eu choro o destino pelos candeeiros de ferro.
Mesmo quando te dou a mão.
O meu sorriso esconde pavorosas descobertas sentimentais.
Falham em mim as grandes religiões e sinto as dores dos profetas desesperados.
Percorre-me na espinha a dor de todos os orfãos... mais... a dor de todas as mães...

Achas-me triste quando estou sério.
Mas não sabes que estou mais triste ainda quando brinco contigo?

Todo o sorriso é uma afronta ao universo meu amor.
Uma gargalhada, uma simples gargalhada condena-te eternamente.
Ousaste ser feliz. Ousaste ser melhor do que os deuses.

"A punição eterna de quem sabe é a morte em vida".

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