sexta-feira, outubro 17, 2003

Zé do Gin - O Sonâmbulo Bêbado

- «Dá-me mais uma, uma, só mais uma...!»
O Barman olhou Zé do Gin de soslaio, enquanto limpava um copo, pano do bar entalado nas calças e a cair, sujo mas ainda branco.
- «Não bebes mais nada hoje», disse sem olhar para ele.
Zé não disse mais nada. Virou a cara para longe da do Barman. Estava de olhos fechados, mas o seu olhar era odioso. Ele tinha de beber mais uma. Mais uma para o caminho. Toda a gente sabe que uma para o caminho é algo de essencial para o alcóolico, para dar a noite por terminada e cair no coma até à tarde seguinte.
- «Há mais quem me sirva!», disse Zé, saindo de braços para a frente e olhos fechados, com um sorriso amargo na boca com baba a cair devagar do lado esquerdo do lábio.
- «Sim Zé... ok... Já és crescidinho...», atirou o Barman.
O copo estava a brilhar, quando o Zé do Gin saiu do Bar para a noite fria. O seu pijama de duas peças, em xadrez azul escuro, com o desenho de um ursinho nas costas, brilhava intensamente sob o néon pulsante. O seu passo - em chinelos macios Ursinho Pooh - era seguro e os seus olhos fechados com força, braços para a frente, hirtos, como blocos de madeira.
Um dealer passou por ele e bateu na ponta do chapéu.
Uma prostituta - a Helga Caracóis - aproximou-se dele, fazendo com o salto dos sapatos vermelhos saltar a água de uma poça suja e enrolou-se com os braços no seu pescoço.
- «Zé... quando me levas outras vez...?», disse num sussurro.
Mas Zé estava a dormir profundamente e não a ouviu, nem sentiu as suas carícias no seu peito quente, por debaixo do pijama de flanela.
Estava distante daquele beco sem nome, numa ilha do Pacífico, coberto de chantilly e a ser lambido devagar por duas nativas em topless...

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