segunda-feira, outubro 27, 2003

Turnpike

Um cruzamento, algures no deserto, à noite.
Um carro passa, lançando poeira no ar, numa infinidade de particulas que impedem a visão por uma dezena de segundos, em que só se ouve o barulho do motor a distanciar-se.

No tejadilho, uma sirene azul, com uma luz vermelha, que lembra ever so faintly a da ambulância que veio buscar o corpo de Marylin Monroe aos sonhos de todos os homens e todas as mulheres...

No salão de baile do hotel, a actriz secundária rodopia nos braços de um produtor, baixo e careca, que aproveita os risos para lhe apertar mais a cintura, para cravar os dedos mais fundos no tecido leve do vestido.

O cabelo dela cheira a jasmin.

Jasmin.

As luzes do carro patrulha entram dentro do salão e perturbam a noite fria, como relâmpagos dormentes de um invasor vindo da dimensão que, sendo real, não pode ser real.

«Where were you when he was murdered?»

A certas perguntas só se pode responder com um sorriso largo.

«Right here inspector. Right here...»

Lá fora a água bate nas rochas, ausente ao mundo dos homens.

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