quarta-feira, setembro 17, 2003

Momento de Penumbra

Momento de penumbra. Apetece-me um romance, mas não sei se o consigo fazer dentro de mim, porque não sei fazer prolongar as coisas sem sofrer demasiado com elas.
Mesmo assim... Momento de penumbra. Um monte de folhas secas recolhidas por um jardineiro velho, de calças sujas. As minhas mãos afundam-se lá dentro, mesmo no profundo das folhas e... progressivamente o seco dá lugar ao molhado, o amarelo dourado ao castanho terra. Fechando os olhos sente-se a diferença, como se metesses as mãos no peito da natureza, mas sem que ela soubesse, sem a fazer acordar. Consigo senti-lo agora, agora que recordo quando o fazia no verão, na casa de S. Julião. O meu pai saiu do Packard e mais ninguém está dentro do velho e enorme carro. A minha mãe passou e disse o meu nome. «Vem Daniel, vem meu filho». Eu amei-os aos dois, mas por ser criança, nunca pensei. Enterrar os braços na pilha de folhas era o meu desejo mais profundo de felicidade. Depois correr, correr para dentro com os pés sujos e a criada velha - como o jardineiro - a gritar ai Jesus.

Não. Não é um sonho. Simplesmente é...

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