segunda-feira, novembro 30, 2009
o cão vadio
ele anda pelo mundo
molhado e a olhar quem passa
como se quem passa pudesse
salvá-lo
mas ninguém salva ninguém
da escuridão que sentimos
do grande frio que sopra na terra
ele caminha molhado
na manhã ausente e todos foram
todos partiram para outro lado
qualquer e deixaram-no sem dono
deixaram-no sem esperança sem objectivos
deixaram-no como quem deita lixo
ao chão e nem olha para trás
ele que morre lentamente do frio
ele que deixará lentamente de ser
ele é o cão-vadio-todos-nós
ele é o cão-abandonado-desespero
quinta-feira, novembro 26, 2009
há algum
mal em
querer estar
só assim
a olhar?
para que
temos de
compreender?
os néscios da terra
para eles será
o reino dos
céus
terça-feira, novembro 24, 2009
a escória da terra
há que perdoá-los
no mundo onde
nada se sente
sexta-feira, novembro 20, 2009
a velha remexe no lixo
porca e suja
mas nós é que
somos porcos e sujos
não remexendo
ausentes da tragédia
de não ter nada
deu-lhe um grande ataque cardíaco
deu-lhe um grande aneurisma no cérebro
monumental e estrondoso e arrebatador
como uma salva de palmas
à chuva de
uma tempestade
e agora?
e agora onde está a compreensão
a necessidade aflita de perceber
o que se passa à sua volta?
ele está dormente
ele está apenas a olhar
--
tenho um grande frio
no cérebro
e o meu tumor
adormecido
range e estala
sábado, novembro 14, 2009
Há uma evidência no Apocalipse.
Uma revelação sincera no fim de todas as coisas.
Que nós não somos nada do
Que pensávamos que eramos.
Que no entrelaçado das estrelas suspira o grande silêncio da nossa ausência.
Esperam por nós como quem espera por quem acaba de partir.
E basta que morramos todos para se apagarem elas.